Resumo
Este artigo contextualiza os Grupos de Ouvidores de Vozes em sua constituição, analisando sua trajetória, impacto e possibilidades de inserção na atenção psicossocial. A experiência de ouvir vozes sempre esteve presente na história, sendo interpretada de formas distintas ao longo do tempo. No entanto, com o avanço da psiquiatria tradicional, passou a ser vista predominantemente como um sintoma psiquiátrico, resultando em abordagens estigmatizantes. Como contraponto, surge o Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes (MIOV), que propõe a escuta ativa e o suporte por pares como estratégia de enfrentamento e protagonismo.
No Brasil, os primeiros Grupos de Ouvidores de Vozes a integrarem os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) surgem em 2015. Desde então, estudos apontam que os grupos promovem acolhimento e ressignificação da experiência de ouvir vozes, representando uma ferramenta essencial no cuidado em liberdade, oferecendo alternativas eficazes para a atenção psicossocial e o recovery. No entanto, desafios como falta de financiamento, resistência biomédica e desigualdade na implementação comprometem sua expansão no Sistema Único de Saúde (SUS). Conclui-se, portanto, que os grupos de ouvidores representam uma estratégia de cuidado que valoriza a dignidade e a autonomia humana, sendo necessário um maior reconhecimento e investimento nas políticas de saúde para sua efetividade.
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