Resumo
O naturalista Henry Bates permaneceu onze anos realizando atividades científicas na região Amazônica. Para que ele concretizasse esse empreendimento, dois fatores são enfatizados pela historiografia: um, de ordem motivacional, refere-se ao acentuado interesse que ele nutria pela História Natural; outro, de ordem econômica, diz respeito ao contrato que assinou antes da viagem, por meio do qual receberia pagamento pelas espécies que enviasse à Europa. Essas afirmações decorrem de uma minuciosa leitura dos textos historiográficos que incluem a jornada do naturalista na Amazônia, entre os quais estão aqueles escritos por Henry Bates mesmo, sobretudo no livro de viagem, em que enfatiza as próprias impressões estéticas e sensíveis, e não apenas suas atividades científicas na região. A leitura desses escritos nos levou à seguinte questão: Teriam sido essa motivação e esse pagamento os únicos fatores que contribuíram para a longa temporada passada nessa região? Concluímos que essa permanência — condição necessária para as atividades científicas que ele realizou, conforme expressa nos próprios escritos —, além dos propósitos científicos, foi estimulada por sentimentos afetivos e valores estéticos relativos à natureza e favorecida pelo apoio da população local.
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