Abstract
O tema central deste número dos Cadernos de História da Ciência “Década de 1980: O Programa de autosuficiência em imunobiológicos e o SUS” foi escolhido em função da retomada atual da discussão pelo Ministério da Saúde das questões pertinentes à política de ciência e tecnologia e inovação, numa óptica de desenvolvimento nacional. Neste sentido, a década de 1980 tem significados importantes para o tema pelas mudanças políticas, econômicas e sociais ocorridas e a definição de alguns marcos importantes para a saúde e, em especial, para instituições de pesquisa e produção de imunobiológicos. Apenas para contextualizar sinteticamente o período, do ponto de vista político, a transição do período ditatorial para a redemocratização consolida-se com a vitória dos governadores de oposição em 1982, a retomada de uma agenda de regaste do social, a eleição indireta de Tancredo Neves e a Assembléia Nacional Constituinte Cidadã, como foi chamada por suas propostas avançadas e, em especial, na definição do capítulo da seguridade social. Já no campo econômico, os efeitos da crise mundial nos países periféricos irão denominá-la de “década perdida” e, do ponto de vista mais diretivo das políticas do setor, verifica-se uma retomada da visão liberal (neoliberalismo) com repercussões severas com as ondas de privatizações, diminuição do Estado, restrições às políticas sociais, entre outras. No setor social, falando de saúde, destacam-se como marcos na construção das concepções e diretrizes para o Sistema Único de Saúde, bem como sua efetivação enquanto política nacional: as Ações integradas de Saúde, o SUDS e a 8ª Conferência Nacional de Saúde. Mais especificamente em relação à produção de imunobiológicos, a criação, ainda em 1973, do Programa Nacional de Imunização e, logo após, a grave crise de abastecimento de soros e vacinas com o fechamento da Syntex, encontraram os institutos públicos defasados do ponto de vista tecnológico e sem condições de atender ao mercado público. O Programa de autosuficiência em imunobiológicos (Pasni) de 1986 foi uma resposta à crise, no qual foram injetados recursos nesses institutos para fazer frente às demandas do PNI.Neste sentido os dois primeiros artigos apresentam a participação dos principais institutos públicos produtores, o Butantan e Bio-Manguinhos, a partir da reorientação política, onde são apresentadas análises dos processos internos, contextualizados a partir da criação e desenvolvimento do Centro de Biotecnologia do IBu e da trajetória de Bio-Manguinhos. Apesar das semelhanças entre os dois institutos, é possível distinguir modelos diferentes na implementação e desenvolvimento destes.
O terceiro artigo é a edição de parte das apresentações do Prof. Antonio C.M. Camargo e da Profa. Luciana Cerqueira Leite, realizadas no seminário “Da bancada ao produto” de iniciativa do Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada do IBu que coordena o Programa CAT-CEPID, financiado pela Fapesp. Na primeira exposição “Estratégias para o desenvolvimento de inovações farmacêuticas no Brasil” do Prof. Camargo, a pergunta central foi: como tornar nossas descobertas/invenções em produtos que realmente atendam as expectativas e coloquem o nosso país ou instituição num cenário inovador? A resposta é colocada a partir do chamado modelo CAT/CEPID onde são abordados problemas da inovação e direito da propriedade intelectual do ponto de vista médico e mercadológico, embutindo um conflito básico entre a ciência médica e a indústria farmacêutica. Na segunda exposição “Desenvolvimento de vacina BCG recombinante neonatal contra coqueluche”, a Profa. Leite discorre sobre todo o processo de desenvolvimento tecnológico envolvendo o Centro de Biotecnologia e um grande número de instituições com resultado positivo. Ao final, é editado ainda o debate que se seguiu às exposições.
A Série Depoimentos presta uma homenagem aos oitenta anos do Prof. Isaias Raw, em que é reproduzida a fala do Prof. Walter Colli que traça aspectos do perfil biográfico do amigo e cientista. A entrevista realizada com o Prof. Raw aborda a criação e desenvolvimento do Centro de Biotecnologia do qual foi idealizador na década de 80, como liderança científica recém contratada, colocando além da visão histórica do modelo os desafios presentes para o Centro e o Instituto.
Este número reproduz na Série Documentos e Fontes a fala do historiador e então Deputado Estadual Caio Prado Jr. na Assembléia Constituinte Estadual de 1947 em defesa da criação da Fapesp, extraída do livro coordenado pelo pesquisador Shozo Motoyama. A pesquisadora Aline Solosando apresenta alguns elementos biográficos do autor. Inicia-se ainda neste número um espaço dedicado a resenhas, no qual a pesquisadora Suzana Cesar Gouveia Fernandes discorre sobre o livro recém editado pela Editora Fiocruz da historiadora Cristina M. Oliveira Fonseca sobre “Saúde no Governo Vargas (1930-1945) dualidade institucional de um bem público”.
Por fim, publicamos as normas para submissão de artigos dos Cadernos de História da Ciência, ampliando assim a proposta inicial de veículo de divulgação de trabalhos nesta área, de caráter eminentemente interdisciplinar. Aproveitamos para agradecer aqui a aquiescência da maioria dos nossos colaboradores tanto na criação e desenvolvimento do Laboratório Especial de História da Ciência quanto da edição tentativa dos Cadernos em compor nosso primeiro Conselho Editorial. A necessidade de caminharmos rumo a uma indexação deste periódico tanto no sentido de legitimação acadêmica quanto na busca de excelência é que nos fez redirecionar nossa publicação. Comissão Editorial
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