Resumo
Considerando como correta a vinculação entre feminismo e Antropologia Social, especificamente o entendimento da opressão feminina e a pertinência de sua universalidade, as teóricas feministas, com o intuito de estruturar sua atuação política, paulatinamente acabaram por apropriar-se dos resultados dos estudos etnológicos e antropológicos – mesmo que tais estudos fossem preliminares e centrados em contextos etnográficos diversos e particulares. Desse modo, para o feminismo, os estudos antropológicos serviram para aperfeiçoar seus argumentos que reivindicam a constatação da universalidade da opressão feminina. A maioria desses debates foi pautada, portanto, em estudos antropológicos que tratam do complexo ideológico do “antagonismo sexual” – definido por Quinn (1974) por meio de exemplos como segregação dos espaços e das atividades rituais secretas às mulheres e às crianças, presença de estupros coletivos e sanção às mulheres frente a atos não desejáveis, incluindo a percepção do sangue menstrual como uma “poluição feminina”. Já outra corrente de estudos, que chamo aqui de “complementaridade de gênero”, surgiu focada na construção da “diferença de gênero” para cada contexto específico e evitando generalizações e universalizações de categorias que são propriamente ocidentais.
Referências
Morgan LH. Systems of Consanguinity and Affinity of the Human Family. Washington (DC): Smithsonian Institution, 1871.
Malinowski B. A vida sexual dos selvagens. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora; 1979.
Lévi-Strauss C. As estruturas elementares de parentesco. Ferreira M, tradutor. Petrópolis: Vozes; 1982.
Quinn N. Anthropological studies on women’s status. Annual Review of Anthropology. Annual Reviews Inc. 1977; (6):181-225.
Strathern M. O gênero da dádiva: problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na Melanésia. Villalobos A, tradutor. Campinas: Editora da Unicamp; 2006.
Rosaldo M, Lamphere L. A mulher, a cultura e a sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
Chodorow N. Family Structure and Feminine Personality. In: Rosaldo M, Lamphere L, editors. Women, culture and society. Stanford: Stanford University Press; 1974.
Ortner S. Está a mulher para o homem assim como a natureza para a cultura? In: Rosaldo MZ, Lamphere L. A mulher, a cultura e a sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1979.
Brown J. Iroquois women: an ethnohistorical note. In: Reiter R, editor. Toward an Anthropology of Women. New York: Monthly Review Press; 1975.
Sanday P. Female status in the Public Domain. In: Rosaldo M, Lamphere L, editors. Women, culture and society. Stanford: Stanford University Press; 1979.
Sacks K. Engels revisited: women, the organization of production and private property. In: Rosaldo M, Lamphere
L, editors. Women, culture and society. Stanford: Stanford University Press; 1974.
Rubin F. The Traffic in Women: Notes on the Political Economy of Sex. In: Reiter R, editor. Toward an Anthropology of women. New York: Monthly Review Press; 1975.
Rosaldo M. The use and abuse of Anthropology: reflections on feminism and cross-cultural understanding. Signs: Journal of Women in Culture and Society. 1980;5(3):389-417.
Rabinow P. Discourse and power: on the limits of ethnographic texts. Dialectical Anthropology. 1985; 1-1
Clifford J, Marcus G. A escrita da cultura: poética e política da etnografia. Coelho MC, tradutor. Rio de Janeiro: Papeis Selvagens; 2016.
Lasmar C. Antropologia feminista e etnologia amazônica: a questão de gênero nas décadas de 70 e 80 [dissertação]. Rio de Janeiro: Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1996.
Viveiros de Castro E. A fabricação do corpo na sociedade xinguana. Boletim do Museu Nacional. 1979. (32):40-49.
Freyre G. Casa grande e senzala. Rio de Janeiro: Record; 1998.
Ribeiro D. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras; 1995.
Lasmar C. Mulheres indígenas: representações. Revista de Estudos Feministas. Florianópolis [internet]. 1999 [acesso em 27 set 2021]; 3:1-14. Disponível em: file:///C:/Users/regina.figueiredo.ISAUDE2/Downloads/11989-Texto%20do%20Artigo-36828-1-10-20091117.PDF.
Overing J. Men control women?The ‘catch 22’ in the anaylis of gender. International Journal of Moral and Social Studies. 1986; 1(2):135-156.
Ortner S, Rosaldo M. Woman, culture e society. Stanford: Stanford University Press; 1974.
Sanday P. Female Status in the Public Domain. In: Rosaldo M, Lamphere L, editors. Women, Culture and Society. Stanford: Stanford University Press; 1974.
Engels F. A origem da familia, da propriedade privada e do estado. São Paulo: Boitempo; 2019.
Bacdayan A. Mechanistic cooperation and sexual equality among the Westrn Bontoc. In: Schlegel A, editor. Sexual stratification: a cross-cultural view. New York: Columbia University Press; 1977.
Schlegel A. Toward a Theory of Sexual Stratification. In: Schlegel A, editor. Sexual stratification: a cross-cultural view. New York: Columbia University Press; 1977.
Strathern M. No nature, no culture: the Hagen case. In. MacCormack C, Strathern, M, editors. Nature, culture and gender. Cambridge: Cambridge University Press; 1980.
Colier J, Yanagisako S, editors. Gender and kinship: essays toward an unified analysis. Stanford: Stanford University Press; 1987.
Gregor TA, Tuzin D, editors. Gender in Amazonia and Melanesia: an exploration of the comparative method. Berkeley: University of California Press; 2001.
Descola P. In the society of nature: a native ecology in Amazonia. Cambridge: Editions de la Maison des Sciences de l’Homme, Cambridge University Press; 1994.
Murphy Y, Murphy R. Women of the Florest. New York: Columbia University Press; 1974.
Hugh-Jones C. From the milk river: Spatial and temporal processes in Northwest Amazonia. Cambridge: Cambridge University Press; 1979.
Gregor T. Mehinaku. Chicago: University of Chicago Press;2009.
Paes F. Maybury-Lewis: trajetória de vida no Brasil Central – Trajetórias [internet]. [entrevista]. Laboratório de Imagem e Som em Antropologia - DA - FFLCH – USP; 2002 [acesso em 27 set 2021]. Disponível em: https://lisa.fflch.usp.br/node/216.
Lévi-Strauss C. Les organizations dualistes existent-elles?. In: Anthropologie structurale. Paris: Plon; 1958. p.147-180.
Müller R. Os asurini do Xingu. Campinas: Editora Unicamp; 1993.
Lea VR. Gênero feminino Mebengokre (Kayapó): desvendando representações desgastadas. Cadernos Pagu. 2007;3:85-116.
Gow P. Aprendiendo a defenderse: La historia oral y
el Parentesco en el Bajo Urubamba. Amazonia Indigena.1990; 11:10-16
Gow P. O parentesco como consciência humana: o caso dos Piro. Mana. 1997; 3(2):39-65.
McCalun C. Ritual Ana the Origin of Sexuality in the Alto Xingu. In: Harvey P, Gow P, editors. Sex and violence: issues in representation and experience. London: Routledge; 1994.
McCalun C. Morte e pessoa entre os Kaxinawá. Mana.1996; II(2):48-84.
Overing J. Comments. Symposium Social time and social space in lowland South American societi. Actes du XLII Congrès Internacional des Américanistes. 1977; (II):387-94.
Overing J. A estética da produção o senso de comunidade entre os Cubeo e os Piaroa. Revista de Antropologia.1991; 34:7-33.
Belaunde LE. El recuerdo de luna: género, sangre, memoria entre los pueblos amazónicos, Lima. Universidad mayor de San Marcos; 2005.
Gonçalves MA Produção e significado da diferença: revisando o gênero na antropologia. Lugar Primeiro. 2000; 4.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2022 Janaina de Alencar Ribeiro