Resumo
O presente artigo analisa a construção sócio-histórica do papel dos psicólogos na Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil. Foram selecionados documentos publicados pelo Ministério da Saúde, e suas áreas técnicas de Saúde Mental e Atenção Primária à Saúde, contemplando portarias, cadernos de diretrizes e normativas. A análise documental foi mediada pelo referencial teórico do processo de trabalho em saúde, de Ricardo Bruno Mendes-Gonçalves. As publicações apontam que a inserção da saúde mental na APS ocorreu a partir dos princípios da reforma psiquiátrica e reinserção psicossocial, sendo que, em seus documentos iniciais (2008,
2009, 2011), as ações em saúde mental são descritas como atribuições de equipes especialistas (nelas contidas os psicólogos). O desfinanciamento do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em 2020 impactou diretamente as discussões sobre modelos de atenção mais ampliados, promovendo uma lacuna nas publicações ministeriais até 2023, com a portaria da eMulti. Nesse período, temos duas publicações do Conselho Federal de Psicologia (2019 e 2022). Essas publicações avançam na posição da organização do trabalho, equipes e serviços, porém, nota-se um esvaziamento das discussões a respeito do necessário alinhamento entre processo
de trabalho e modelo de atenção, gerando risco de perpetuar a manutenção das práticas psicológicas num modelo biomédico hegemônico que incentiva a fragmentação do cuidado.
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