Resumo
Investigou-se a experiência de profissionais de serviços de saúde do estado de São Paulo com o preenchimento da notificação compulsória da violência sexual contra mulheres. Realizou-se um estudo qualitativo do tipo estudo de casos em seis municípios, em serviços públicos de saúde que atendiam mulheres que sofrem violência sexual. Entrevistaram-se 45 profissionais utilizando um roteiro semiestruturado. Em todos os municípios, havia pelo menos um serviço em que a ficha de notificação sempre era preenchida. Nos serviços visitados, em geral eram profissionais de enfermagem que preenchiam a ficha de notificação, e as dificuldades enfrentadas relacionavam-se a três aspectos: 1) contexto em que a ficha estava inserida no serviço: uma tarefa a mais a ser realizada e não institucionalização do atendimento às mulheres que sofrem violência sexual; 2) formato e conteúdo da ficha: perguntas constrangedoras repetidas várias vezes a mulheres muito fragilizadas; e 3) interação dos profissionais da saúde com as mulheres que sofrem violência sexual: despreparo para abordar a questão da violência. O preenchimento da ficha de notificação dos casos de violência sexual é um procedimento fundamental para orientar ações de prevenção e combate a esse problema. Evidenciou-se a necessidade de capacitação dos serviços e dos profissionais para inserirem o preenchimento dessa ficha como parte da atenção integral às mulheres que sofrem violência sexual.
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