Resumo
A doença de Chagas, causada por Trypanosoma cruzi, afeta cerca de 6 a 8 milhões de pessoas no
mundo. Embora a transmissão por triatomíneos esteja controlada, outras formas de transmissão
têm mantido a infecção, sendo responsáveis pela introdução da doença de Chagas em países não
endêmicos. Portanto, a doença de Chagas, atualmente, é um problema de saúde pública mundial.
No Brasil, a transmissão oral tem se destacado, sendo que a polpa de açaí e o caldo de cana são
os alimentos mais envolvidos em surtos. A dificuldade de isolamento de parasitas em alimentos
não tem permitido a análise epidemiológica desses episódios. O objetivo do presente estudo foi
padronizar um método laboratorial de detecção de T. cruzi em alimentos. Para atingir este objetivo
estudamos as seguintes estratégias: i. padronização da PCR convencional (cPCR) e em tempo
real (qPCR) para a determinação de T. cruzi em polpa de açaí e caldo de cana; ii. avaliação da
semeadura de alimentos infectados em meio de cultura LIT a fim de aumentar a carga parasitária
potencializando a sua detecção na PCR; iii. estudo da viabilidade e a integridade de T. cruzi em
alimentos a fim de determinar o tempo ideal para realizar as análises em alimentos infectados; iv.
aplicação da técnica de pesquisa de sujidades leves para detecção de fragmentos dos triatomíneos
como indicador da contaminação. Todos os ensaios foram realizados em amostras de polpa de
açaí e caldo de cana infectadas com diferentes concentrações de T. cruzi (cepa Y). Os resultados
revelaram que o procedimento ideal para pesquisa de T. cruzi em polpas de açaí e caldo de cana
consistiu em: i. centrifugação do alimento; ii. extração de DNA com kit comercial para matriz
fezes e; iii. qPCR utilizando iniciadores específicos para T. cruzi. A cPCR se mostrou também
eficiente para detecção do parasita em alimentos, sendo os limites de detecção de 1 x 101 e 1 x 102
tripomastigotas nos sedimentos de polpa de açaí e caldo de cana, respectivamente. A semeadura
em meio LIT dos alimentos infectados experimentalmente não foi eficiente para aumentar a carga
parasitária. Os testes de viabilidade mostraram que os tripomastigotas mantiveram-se viáveis nas
amostras de caldo de cana por mais de 24 horas, mas na polpa de açaí os parasitas sobreviveram
por até 8 horas. As técnicas para pesquisa de sujidades leves permitiram a recuperação e
caracterização dos fragmentos de triatomíneos, como indicador da contaminação por T. cruzi.
Estes dados dão subsídios para concluir que a qPCR padronizada para detecção de T. cruzi em
amostras de alimentos poderá atender a demanda de diagnóstico dos surtos de infecção oral de
doença de Chagas aguda, juntamente com a pesquisa de sujidades leves, contribuindo para o
esclarecimento dos casos e como suporte para as ações de vigilância em saúde.
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Copyright (c) 2022 Elaine Cristina de Mattos, Vera Lucia Pereira-Chioccola (orientadora)