Resumo
Buscou-se identificar, mediante uso do Observatório de Saúde, potenciais riscos nas interações medicamentosas
durante tratamento da tuberculose em pacientes portadores de infecção pelo HIV e de seus reflexos na
adesão e continuidade do tratamento, detectando as alterações mais encontradas e propondo a elaboração
de escore, considerando as variáveis dicotomizadas. Foram selecionados pacientes internados no Instituto
de Infectologia Emílio Ribas (IIER), notificados pela vigilância epidemiológica no Sistema de Informação
de Agravos de Notificação (SINAN). Realizou-se estudo transversal descritivo exploratório, de janeiro a
dezembro de 2008, utilizando-se dados secundários do prontuário médico, associados à reinternação, óbito e
alteração de CD4, considerando antecedentes de abuso de álcool e/ou drogas, hepatopatias, uso de antiprotease
ou outros medicamentos metabolizados no fígado, hepatite, quantidade de medicamentos e os medicamentos
metabolizados no fígado. A casuística foi composta por 82 pacientes, 60 (73,00%) pacientes masculinos e 22
(27,00%) femininos, com idade variando entre 13-59 anos (média 37,70). Dentre esses pacientes, 46 (76,66%)
eram de cor branca e sofreram 144 internações no período. Dos pacientes, 68,29% moravam no município
de São Paulo e os demais na Região Metropolitana. Referiram tratamento irregular, abandono ou não adesão
38,33% dos homens e 40,90% das mulheres. Entre os antecedentes, 31 (37,80%) eram usuários de drogas
ilícitas, 17 (20,73%), de álcool e 10 (12,20%) eram portadores de hepatite. Quanto à forma de tuberculose,
segundo a Classificação Internacional de Doenças - CID-10, foram 21 (A15); 18 (A16); 15 (A17); 17 (A18)
e 11 (A19). Associado à reinternação Odds Ratio (OR) 3,0, estavam os antecedentes de hepatopatias e ao
3,87, o uso de antiproteases ou outros medicamentos metabolizados no fígado. Associado a óbitos OR 4,12,
estava o uso de proteases ou outros medicamentos metabolizados no fígado e, ao CD4 alterado OR 3,49,
a mesma variável, enquanto um OR 12,60 foi associado a antecedente de álcool e ou drogas. Os efeitos
colaterais mais frequentes foram náuseas, vômitos e nove pacientes evoluíram com colestase, icterícia,
pancreatite ou hepatite medicamentosa. Pacientes com CD4 <200, com múltiplas comorbidades, apresentaram
efeitos adversos graves. Identificou-se fatores como antecedentes de abuso de álcool e drogas associados a
reinternações, alteração do CD4 e aos óbitos, os antecedentes de hepatopatias e uso de antiproteases ou
outros medicamentos metabolizados no fígado associados a reinternações e a alteração do CD4. O escore
proposto é de fácil aplicação, podendo contribuir na identificação de pacientes com maior risco utilizando-se
de variáveis clínico-epidemiológicas e laboratoriais e adoção de uma rotina de monitoramento dos registros
hospitalares para identificar a incidência de reinternações e suas causas, estabelecendo um protocolo de alta
hospitalar com agendamento prévio em unidade especializada próxima à residência.
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