Resumo
Cepas de Cryptococcus gattii e C. neoformans têm potencial para desenvolver resistência in vitro ao fluconazol (FCL), o que poderia explicar as constantes falhas terapêuticas e recidivas observadas em pacientes com criptococose e sob terapia com este fármaco. Heterorresistência é um fenômeno descrito como a emergência de uma subpopulação pequena de células resistentes, dentro de uma única colônia de uma cepa suscetível, que pode tolerar concentrações de FCL mais elevadas do que os níveis de CIM. O objetivo deste estudo foi investigar o nível de heterorresistência a FCL em 100 cepas, incluindo C. gattii e C. neoformans de origem ambiental e clínica (uma por paciente), provenientes de 3 coleções de culturas (19872013). O CIM de FCL foi determinado por microdiluição e, em seguida, o seu nível de heterorresistência ao FCL (NHF) foi avaliado. As suspensões celulares de todas as cepas foram inoculadas em placas de meio YPD contendo distintas concentrações de FCL (4 a 128 mg/L). O nível de heterorresistência (NHF) de cada isolado foi determinado pela maior concentração do fármaco que permitiu crescimento de subpopulações heterorresistentes; a partir destas, foram obtidas subpopulações altamente heterorresistentes em concentrações maiores do fármaco (até 256 mg/L). A estabilidade da heterorresistência foi analisada por transferência diária das subpopulações em meio de cultura isento de fármaco até a reversão para o NHF original. A cepa-padrão H99, com valores de CIM e NHF conhecidos, foi utilizada como controle do teste de heterorresistência. Os CIMs de FCL variaram entre 0,12 a 64 mg/L e foi demonstrado que todas as 100 cepas manifestaram heterorresistência (NHF entre 8 e 128 mg/L) com indução de até 256 mg/L. De 13 cepas avaliadas para estabilidade da heterorresistência, todas permaneceram estáveis até 9 passagens diárias em meio isento de FCL. Observou‑se que o nível de heterorresistência a FCL foi cepa-dependente e em C. gattii maior do que em C. neoformans. Constatou-se que essa resposta adaptativa é estável com difícil reversão. O estudo sobre heterorresistência revela um mecanismo adaptativo para sobrevivência sob estresse de exposição ao FCL e pode oferecer informações úteis para compreensão da resistência observada em pacientes sob terapia azólica de longo prazo.
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Copyright (c) 2018 Leticia Marielle Feliciano, Marcia de Souza Carvalho Melhem (orientadora)