Resumo
Introdução: Embora a epidemia de Aids no município de São Paulo (MSP) seja concentrada em populações-chave – homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, usuários de drogas e pessoas privadas de liberdade – a análise de acordo com raça/cor traz importantes informações para aprimorar as estratégias de enfrentamento da epidemia. O item raça/cor foi introduzido no cadastro de pacientes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São Paulo em 2004. Com a disponibilização de informações sobre raça/cor no Censo de 2010 pode-se calcular as taxas de detecção (TD) e de mortalidade (TM) de acordo com essa variável no MSP. Objetivo: analisar a epidemia de aids de acordo com raça/cor no MSP. Metodologia: a partir dos casos de aids registrados no Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan) foram calculadas as taxas de detecção e de mortalidade por aids de acordo com raça/cor para o MSP de 2010 a 2014. Resultados: no período avaliado, as TD de aids por 100 mil habitantes variaram negativamente entre homens brancos (37,3 para 30,7) e pretos (61 para 51,8) e cresceram entre os homens pardos (37,9 para 40,6); entre as mulheres brancas (10,7 para 7,3), pretas (31,3 para 21,4) e pardas (16,5 para 13,4) as variações foram negativas. Entretanto, quando analisadas as taxas de mortalidade pelos mesmos critérios, verifica-se que enquanto as TM entre os homens (9,3 para 8,1) e as mulheres brancas (2,9 para 2,5) caíram, entre os homens (18,6 para 25,6) e mulheres (7,7 para 10,3) pretos e homens (8,4 para 11,3) e mulheres (4,9 para 5,3) pardos cresceram no MSP. As TD e TM de pardos(as) apresentaram valores intermediários entre brancos(as) e pretos(as). Discussão: a epidemia de aids está atingindo de forma mais intensa os pretos e os pardos, quando comparados aos brancos, no MSP. Há uma disparidade entre a evolução de TD e TM entre pretos e pardos, e a aparente melhoria das TD sem a esperável redução das TM pode, na realidade, representar baixo acesso à testagem para HIV e diagnóstico tardio entre pretos e pardos. Há necessidade de identificar as possíveis barreiras à testagem e acesso a tratamento precoce entre pretos e pardos. Entre as possíveis causas que expliquem os resultados encontrados não se pode afastar a possibilidade de racismo institucional. Conclusão: A partir do quadro apresentado, estratégias estão sendo implementadas para diminuir o impacto da doença na população da cidade de São Paulo, entre elas maior articulação com as Organizações da Sociedade Civil. Acesso a informação, prevenção, diagnóstico e tratamento devem estar ao alcance de todos. Trata-se aqui de garantir a equidade, um dos princípios fundamentais do SUS. É essencial que esta questão seja tratada de forma a não elevar a pesada carga de estigma e discriminação que atinge a população negra em nosso meio.
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