Resumo
Ao longo da história humana, as populações vêm interagindo com animais em diferentes condições ambientais, favorecendo a exposição a agentes infecciosos. A domesticação de animais incrementou a ocorrência de doenças entre populações humanas, uma vez que as pessoas trouxeram, para perto de si, animais para consumo e para convívio. Esse contato constante facilitou a transmissão de parasitos, incluindo zoonóticos, antes adquiridos eventualmente. Atualmente, em grande parte dos domicílios, as pessoas convivem com animais de estimação, principalmente cães e gatos, muitas vezes considerados membros da família, evidenciando o papel dos animais como companhia. Além disso, diferentes espécies animais são utilizadas para alimentação, vestuário, transporte, pet terapia e outros. Essa dinâmica requer que as equipes de saúde estejam atentas e sejam capazes de detectar e minimizar riscos à saúde da população, prevenindo agravos e doenças, desenvolvendo ações de controle de zoonoses e de doenças de transmissão vetorial. A complexidade da questão torna necessária a integração de profissionais de diferentes formações nas equipes de saúde, capacitados nas diversas áreas de conhecimento. Além disso, a intersetorialidade é hoje ferramenta fundamental para que se possa, de forma efetiva, minimizar o impacto dos problemas de saúde. Os municípios têm desenvolvido e aprimorado ações de promoção da saúde, prevenção de agravos e doenças, associados ao bem-estar animal, além da preservação do meio ambiente, tornando indispensável a articulação dos diversos órgãos envolvidos na questão. Uma estratégia para compreender e atuar nos problemas de saúde decorrentes da convivência humana, animal e ambiental é o conceito de “Saúde Única” ou “One Health”, que reconhece que a saúde de seres humanos está diretamente relacionada à saúde dos animais e do ambiente. Esse conceito reforça a necessidade da adoção de programas intersetoriais e multidisciplinares com a participação ativa da comunidade para o estabelecimento de prioridades nas políticas públicas. Nesta edição do Bepa são apresentados trabalhos voltados à vigilância e controle de zoonoses, dentre eles a notificação de um caso importado de raiva humana, este ano, no Município de São Paulo. No estado de São Paulo, o último caso de raiva humana autóctone foi em 2001, ocorrido no município de Dracena. A doença foi causada por variante de morcego, mas a transmissão foi por um gato. O último caso de raiva transmitido pelo cão, com variante canina, foi em 1996, em Ribeirão Preto. A variante canina não é isolada desde 1997, no entanto, a variante de morcego é encontrada em praticamente todo estado. Em 2013, 262 amostras analisadas pela rede estadual de laboratórios de referência para o diagnóstico da raiva foram positivas, a maioria de bovinos, morcegos não hematófagos e equinos. A vacina e o soro continuam sendo as únicas ferramentas comprovadamente eficazes para prevenir a raiva humana e evitar o óbito. Alertamos para a necessidade da vigilância ativa da circulação viral e casos de raiva e para a importância da capacitação da equipe de saúde na utilização de imunobiológicos em momento adequado, oportuno, seguindo critérios precisos e seguros. Luciana Hardt Gomes
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