Anaeróbios em infecções de feridas
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Como Citar

1.
Rodrigues C, Souto AB. Anaeróbios em infecções de feridas. Rev Inst Adolfo Lutz [Internet]. 12º de janeiro de 1943 [citado 28º de março de 2024];3(1):81-95. Disponível em: https://periodicos.saude.sp.gov.br/RIAL/article/view/33113

Resumo

Os microrganismos patogênicos anaeróbios são a causa das mais graves infecções de feridas. É nas feridas de guerra que as complicações por germes anaeróbios são mais frequentes. O bombardeio aéreo indiscriminado das populações civis acarretou novos problemas com relação às infecções de feridas por germes anaeróbios. A despeito da maior força viva dos projeteis e o uso de novos engenhos de destruição, diminuiu a mortalidade entre os feridos de guerra e aumentou a proporção dos "recuperados". Estes fatos são devidos ao deslocamento dos hospitais de campo, paralelamente aos deslocamentos das linhas de combate. A perfeita aparelhagem desses hospitais, permitindo realizarem-se operações nas linhas de frente, possibilita uma eficiente prevenção das gangrenas gasosas. Como consequência do tratamento cirúrgico precoce, fator da mais alta importância na prevenção das gangrenas gasosas, a porcentagem de amputações foi reduzida de um terço na frente russa, a proporção dos recuperados para as linhas de combate subiu a 73%. A mortalidade nos hospitais russos baixou a 1,1%. Nas guerras de movimento como as do início da guerra atual, a flora de contaminação das feridas é pobre. Nas guerras de estabilização, a flora de contaminação é muito complexa. Nas guerras de movimento o Clostridium Welchii é o anaeróbio contaminante mais frequente. Nas guerras de estabilização a flora anaeróbia é rica, sobressaindo como contaminante mais frequente o Clostridium septicum, e o Clostridium Novyi. Os exames das amostras dos solos do Norte de África, onde se desenvolveu a campanha, demonstraram ser extremamente baixa a porcentagem de germes anaeróbios nos mesmos. É elevada a proporção de microrganismos anaeróbios nos solos das regiões cultivadas da Europa. Os exames do solo das zonas de guerra da Europa (1918) demonstraram estar o Clostridium Welchii presente em 100 % dos casos; o Clostridium Novyi em 64%; o Clostridium septicum em 8 %, o Clostridium histolyticum em 2% e o Clostridium tetani em 27 %. É possível que, com o deslocamento das linhas de combate para outras regiões, volte a se apresentar o problema das infecções de feridas por germes anaeróbios. A vacinação profilática antitetânica, os progressos da técnica cirúrgica, os sulfamídicos, a obtenção de soros antigangrenosos mais ativos e o rigoroso cuidado com o estado geral do paciente, estão concorrendo para diminuir perigo das infecções das feridas por germes anaeróbios. É possível esperar que a exigência de dosagem dos soros antigangrenosos em unidades internacionais, permita obter resultados ainda não suspeitados no tratamento profilático e curativo de gangrena gasosa. Os progressos no diagnóstico rápido das infecções anaeróbias permitem esperar que possam ser usados os soros monovalentes. O método atual de mistura dos soros polivalentes é sujeito a criticas. São excelentes os resultados obtidos das primeiras observações dos feridos vacinados anteriormente contra o tétano, por meio do toxóide tetânico. É' necessário estimular os estudos para obtenção de toxóides igualmente ativos contra os principais germes da gangrena gasosa. As experiências em animais permitem esperar a obtenção de toxóides ativos contra os principais agentes da gangrena gasosa. Os sulfamídicos têm dado excelentes resultados no tratamento das infecções anaeróbias. Porém, nas intoxicações que ocorrem nos feridos socorridos tardiamente, os sulfamídicos têm pouca ou nenhuma ação. Só o soro específico é capaz de neutralizar as toxinas circulantes e desintoxicar o organismo. Várias substâncias medicamentosas novas têm produzido bons resultados terapêuticos na gangrena experimental, entre outros: a penicilina, gramicidina, a tirocina, a tirotricina, e o peróxido de zinco. O raio X permite o diagnóstico precoce da gangrena gasosa e produz resultados apreciáveis no tratamento de certos casos. O tratamento cirúrgico precoce pela excisão e o debridamento largo é o tratamento básico da gangrena gasosa. O tratamento biológico das feridas, segundo Trueta, impede ou diminui o perigo das gangrenas gasosas.
https://doi.org/10.53393/rial.1943.3.33113
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