Resumo
De fezes catarrais de uma criança com 11 meses, em estado febril e que pela primeira vez tinha sintomas de uma disenteria, isolou o autor um bacilo com os seguintes principais caracteres próprios do gen. Eberthella: bastonetes de 1 a 3 µ de comprimento, por 0,5 a 0,6 µ de largura, às vezes apresentando formas mais longas e até filamentosas, ora isolados, ora em diplo-bacilos, com extremidades arredondadas, moveis, Gram-negativos.
Caldo peptonado: turvação com pequeno deposito. Odor butírico pronunciado, em 48 horas.
Placas de agar-peptonado : colônias superficiais discoídes,1 mm diâmetro, com bordos regulares e superfície lisa e brilhante. Acinzentadas e mais ou menos transparentes. Colônias profundas biconvexas ou ovaladas com bordos lisos.
Agar-peptonado inclinado: Cultura abundante, acinzentada, úmida, brilhante e com odor butírico.
Gelatina - Não há liquefação.
Placas de agar-sangue de coelho – Desenvolvimento abundante, com odor butíríco acentuado. Não há hemólise.
Batata glicerinada: Em 48-72 h desenvolvimento apreciável em camada úmida, branco-amarelada. Turvação do líquido subjacente.
Produção de ácido, mas não de gás: Dextrose, sacarose, levulose, glicerina, manose e adonita.
Nenhum ácido nem gás: Lactose, D manita, maltose, D xilose, dulcita, celobiose, dextrina, inulina, I ínosita, esculina, D sorbita, L isodulcita, rafinose, D galactose, L arabinose, salicina, trehalose, amigdalina e amido.
Leite tornasolado: Alcalino em 48-72 h. Fortemente alcalino do 8.° dia em diante.
lndol: Ligeiramente positivo 24-48 h. Positivo 96 h.
Acetil-metil-carbinoi: negativo.
Vermelho de metila: positivo.
Nitratos: Positivo, redução a nitritos.
Hidrogenio suifumuio: Positivo, papel e agar-acetato de chumbo.
Patogenia: Patogênico para camundongo branco, cobaia e coelho. Dado per os, não se mostrou patogênico a M. rhesus e a Cebus versuta.
Habitat - Intestino humano.
O germe acidifica a sacarose tardiamente (6.° dia) retornando o meio à alcalinidade, a começar do 13.°-15.° dia. Glicerina e adonita também retornam à alcalinidade, o primeiro no 18.o dia e o último no 10.° dia. Sua ação sobre o leite tornasolado é bastante característica: leve alcalinidade no 2.° ou 3.° dia, a qual vai pouco a pouco aumentando até o 8.° dia quando o tornasol toma então uma coloração azul muito intensa. Algumas vezes pode-se perceber uma levíssima acidez inicial nas primeiras 24 horas - o que o autor observou também com Shig. alkalescens; mas esta ligeira mutação do tornasol pode ser considerada, praticamente, desprezível. A Eberthella estudada alcaliniza igualmente a água peptonada, elevando o seu pH até 8.9 (11.° dia de incubação) máximo de pH a que chegaram também Shigella alkalescens e Faecalis alcoligenes, estudadas comparativamente. O sangue colhido da doente, no 10.° dia, aglutinou o germe na diluição de 1/800. Suspensão de culturas mortas injetadas em coelho produziram nesse animal, aglutininas até o título de 1/1.600. Eberthella typhi e seu antissoro não foram influenciados nem pelo soro da doente nem pelo germe isolado. O germe não produziu toxina solúvel em caldo peptonado mantido a 37o C, durante 20 dias. De acordo com o estudo realizado, e baseado principalmente nos dados fornecidos pelo "Bergey's Manual" (5.a ed. 1939), supõe o autor que está em presença de uma nova espécie do gen. Eberthella Buchanan, que deverá figurar ao lado de Eberthella tolavensis. Propõe, finalmente, para o germe a denominação específica de Eberthella alcalifaciens (n ,sp.) .
Referências
1. BERGEY'SManual of Determinative Bacteriology - Fifth edition, April 1939. Williams & Wilkins Comp. Baltimore.
2. CASTELANI,A. - Centro f. Bakt. 1. Abt. 65 (262) 1912.
3. ANDREWEs,F. W. - The Lancet, 194 (563) 1918.
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