Resumo
Em comunicação anterior, os autores trataram de um caso humano de tifo exantemático murino observado na capital de S. Paulo. O diagnóstico do caso foi feito pelo isolamento e pela identificação de uma amostra de Rickettsia mooseri. Já, anteriormente, haviam sido observados, no Estado de S. Paulo, casos benignos de doença tifo-exantemática semelhantes ao estudado pelos autores. Durante anos, porém, não se conseguiu estabelecer o diagnóstico específico desses casos, os quais, com os casos graves de riquetsiose, eram englobados sob a designação de "tifo exantemático de S. Paulo". Mais tarde, receberam muitos desses casos benignos o diagnóstico de tifo murino, feito apenas com base em dados clínicos e epidemiológicos. No presente trabalho, os autores prosseguem no relato das pesquisas feitas para esclarecer a etiologia de tais casos. A reação de fixação do complemento foi praticada com um certo número de soros com Weil-Felix positivo. Uma grande parte das amostras de sangue foi obtida de indivíduos que sofriam, ou haviam sofrido, uma infecção benigna e que residiam em zonas quer rurais quer urbanas do Estado de S. Paulo. Na parte preliminar do trabalho, realizada em janeiro de 1944, foi utilizado um antígeno, preparado no Instituto Bacteriológico do Chile, por Palácios e Avendaño, com a Rickettsia mooseri. A partir de novembro de 1945, foram empregados antígenos Bengtson, preparados com a riquétsia da febre maculosa das Montanhas Rochosas e com as do tifo murino e tifo epidêmico. Em 1944, foi praticada a prova, em presença do cocto-antígeno, com o soro de 7 casos verificados em zona rural do Estado de S.Paulo. Naquela ocasião, a falta de antígeno para o diagnóstico da febre maculosa tornou impossível o controle perfeito da reação. Não se pôde, assim, concluir, com certeza, pela existência em S. Paulo de uma doença exantemática do grupo "tifo" (tifo murino e tifo epidêmico). Contudo, os resultados falavam fortemente a favor da hipótese de ocorrer, em S. Paulo, mais de um tipo de infecção tifo-exantemática. Cerca de 2 anos mais tarde, as reações realizadas com antígenos Bengtson vieram trazer a prova definitiva de que uma parte dos assim chamados casos de "tifo exantemático de S. Paulo" ou de "febre maculosa" eram realmente casos de uma infecção exantemática do grupo "tifo". De todos os casos clínicos, nos quais foi praticada a reação com os antígenos Bengtson, 58 foram selecionados para serem discutidos nesta comunicação. Em dois deles, conseguiu-se firmar, pela fixação de complemento, o diagnóstico de febre maculosa das Montanhas Rochosas. Em 51 casos, a reação foi positiva, quer com o antígeno murino, quer com o epidêmico. Em muitos desses 51 casos, não houve uma diferença significativa entre os títulos observados com o antígeno murino e com o epidêmico; o título foi, ora mais alto com o murino, ora com o epidêmico. Devido à intensa reação de fixação cruzada, verificada entre o tifo murinho e o epidêmico, só foi possível chegar-se, pela primeira vez, a um diagnóstico seguro de tifo murino pela identificação de uma amostra de Rickettsia mooseri, isolada do caso humano ("Vollet") acima referido. Em uma nota a ser publicada, relataremos o isolamento da Rickettsia mooseri de mais 10 casos humanos de tifo murino, alguns deles provenientes de zona rural. Foi praticada ainda a reação de fixação do complemento com o soro de 75 empregados de um armazém de cereais, onde trabalhava o paciente "Vollet", tendo sido utilizados os antígenos Bengtson. Em 3 desses casos, a reação foi positiva com o antígeno murino ou o epidêmico. Nenhuma dessas 3 pessoas havia apresentado sintomas de infecção nos 30 dias anteriores à sangria. A reação foi também aplicada ao diagnóstico de 4 casos de infecção acidental de laboratório. Verificaram-se todos os 4 entre o pessoal técnico do Laboratório de Riquétsias do Instituto Butantan, onde o trabalho relatado nesta comunicação foi realizado. A reação foi positiva nos 4 casos com os antigenos Bengtson, murino e epidêmico. Posteriormente, foi isolada, de cada caso, uma amostra de Rickettsia mooseri. Em um desses casos, nem pelo emprego dos antígenos de Plotz foi possível chegar-se ao diagnóstico diferencial entre tifo murino e epidêmico. O título da reação realizada na Army Medical School, em Washington, com uma amostra de sangue colhida 4 meses após a infecção, foi mais alto com o antígeno murino do que com o epidêmico. Mas o título de aglutinação de riquétsias foi significativamente mais alto com a Rickettsia mooseri do que com a Rickettsia prowazeki.
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