Resumo
Neste estudo objetivou-se avaliar a viabilidade da utilização da xenocultura como técnica para o isolamento de amostras de Trypanosoma cruzi a partir do trato intestinal de Triatoma infestans. Foram realizadas xenoculturas a partir de xenodiagnósticos aplicados em 78 pacientes, procedentes de diferentes regiões do Brasil, todos em fase crônica da doença de Chagas, sendo 32 co-infectados pelo HIV Foram aplicados no total 101 xenodiagnósticos, executados "in vivo" e/ou "in vitro" com 30-40 ninfas de T infestans entre 3" e 4" estádios de desenvolvimento. Ao final dos exames dos xenodiagnósticos, aos 30 e 60 dias, o trato digestivo de um número variável de triatomíneos de cada exame foi semeado, individualmente, após tratamento com álcool iodado, em meios bifásicos de Ducrey com LIT ou BHI (com gentarnicina). As culturas foram examinadas quinzenalmente até 3 meses e, as amostras isoladas estão preservadas em nitrogênio líquido. Dos 101 xenodiagnósticos aplicados, 73 (72,3%) foram positivos, correspondendo a 57 (73,1 %) dos 78 pacientes. Em 51 (89,5%) dos 57 pacientes (26 co-infectados e 31 em fase crônica da doença de Chagas ) com xenodiagnóstico positivo, o isolamento do parasita foi viabilizado pela utilização da xenocultura. O isolamento de T cruzi foi da ordem de 96,2% (25/26) entre os pacientes coinfectados e 83,9% (26/31) entre aqueles soronegativos para HIV De 461 barbeiros positivos aos exames do xenodiagnóstico "in vivo" ou "in vitro", foi possível o isolamento de 250 (54,2%) amostras de T cruzi. De 181 insetos reconhecidos como negativos nos xenodiagnósticos positivos, foi conseguido o isolamento de 25 (13,8%) amostras do parasita. Mesmo entre 22 ninfas mortas, para as quais nem houvera sido possível o exame, por compressão do abdomen, no xenodiagnóstico, a xenocultura viabilizou o isolamento de mais 2 (9,1 %) amostras de T cruzi. Em nenhum xenodiagnóstico reconhecido como negativo foi obtido êxito para o isolamento deste protozoário. Foi observada uma perda de cerca de 5% das xenoculturas por contaminação bacteriana ou fúngica. Verificou-se, ainda, uma aparente melhor adaptação de formas delgadas do parasita nos meios de cultivo. Além de possibilitar o isolamento de T cruzi em cerca de 90% dos pacientes com xenodiagnósticos positivos e de mais da metade dos triatomíneos infectados, a xenocultura viabilizou o reconhecimento e o isolamento do parasita em cerca de 13,3% (27/203) dos insetos que estavam mortos ou tinham sido identificados como negativos em xenodiagnósticos positivos.
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