Estudo fenotípico e genômico de Escherichia coli produtora de CTX-M-55 em quati-de-cauda-anelada (Nasua nasua) no Parque Ecológico do Tietê em São Paulo

Resumo

Animais silvestres podem carrear bactérias multidroga resistentes (MDR) como resultado de contaminação e poluição em ambientes antropomorfizados. Entre as bactérias resistentes a antimicrobianos, estirpes de Escherichia coli produtoras de beta-lactamase de espectro estendido (do inglês ESBL), são consideradas de alto risco à saúde pública pela Organização Mundial da Saúde. Durante um estudo de vigilância de bactérias resistentes a antimicrobianos no Parque Ecológico do Tietê em São Paulo, suabes retais de quatis-de-cauda-anelada (Nasua nasua) foram coletados e, a partir deles, foram isoladas estirpes de E. coli. Os isolados bacterianos foram submetidos ao teste de disco-difusão para verificar o perfil de suscetibilidade a antimicrobianos. Dentre eles, a estirpe E. coli Q571 mostrou-se produtora de betalactamase de espectro estendido, além de resistente à amoxicilina+clavulanato, ceftazidima, cefotaxima, ceftriaxona, cefepime, aztreonam e cefoxitina. O DNA total foi extraído e submetido a sequenciamento de genoma completo pela platafoma Illumina MiSeq (2 x 150 bp). Análises de bioinformática revelaram que Q571 pertence ao filogrupo D (chuA e arpA), ST69 e sorogrupo O17/O44/O77:H18. O estudo do resistoma revelou a presença dos genes bla_CTX-M-55 (penicilínicos, cefalosporinas e monobactâmicos), dfrA1 (trimetoprim) sul2 (sulfametoxazol), aph(3')-Ia e aac(3)-IId (aminoglicosídeos); enquanto a análise do viruloma apresentou replicons de genes aslA, astA, cea, chuA, eilA, fimH, hlyE, hra, iha, iss, kpsE, kpsMIII_K96, lpfA, mchF, nlpI, ompT, papAC, sitA, terC, tia e yehABCD. Por fim, foram encontradas sequências compatíveis com plasmídeos ColpVC, IncFIA, IncQ1, IncFIB, respectivamente. A presença de E. coli MDR e produtora de ESBL reforça a necessidade de vigilância epidemiológica de bactérias resistentes a antimicrobianos em animais silvestres, e evidencia seu papel como possíveis disseminadores de eventuais patógenos de importância em Saúde Única e sentinelas de contaminação ambiental.