Resumo
A esporotricose é uma zoonose causada pelo fungo pertencente ao gênero Sporothrix, conhecida por “Doença do Jardineiro”. Manifesta-se em quatro formas clínicas, com destaque para a cutânea, caracterizada por lesões ulcerativas e exsudativas. No Brasil, a zoonose atinge principalmente gatos, sendo os maiores responsáveis pela transmissão aos humanos. O presente estudo descreve os casos de esporotricose felina no município de São Vicente, São Paulo. Os dados foram obtidos das fichas de registro dos felinos em tratamento na Unidade de Vigilância de Zoonoses, entre 2022 e 2023, com as variáveis: sexo do animal, critério de confirmação do caso, evolução do tratamento e local aproximado de residência. Foram analisadas 121 fichas de casos suspeitos, destas 76,86% (93/121) foram positivas, 81,72% (76/93) com confirmação laboratorial. A ocorrência de 43,01% (40/93) dos casos foi em bairros com elevada vulnerabilidade social. A alta por cura, dentre os casos encerrados, foi de 33,33%. O caráter epidemiológico da doença se assemelha a outros municípios brasileiros, demonstrando um grande risco à saúde pública. Considerar a doença como de notificação compulsória, fortalecer o conhecimento epidemiológico, avançar no diagnóstico além gênero Sporothrix, e intensificar as medidas de prevenção e controle, são ações necessárias e urgentes diante do avanço dessa zoonose.
Referências
1. Slingenbergh J, Gilbert M, Balogh K, Wint W. Ecological sources of zoonotic diseases. Rev Sci Tech. 2004;23(2):467-84. http://dx.doi.org/10.20506/rst.23.2.1492
2. Tazerji SS, Nardini R, Safdar M, Shehata AA, Duarte PM. An overview of anthropogenic actions as drivers for emerging and re emerging zoonotic diseases. Pathogens. 2022;18;11(11):1376. https://doi.org/10.3390/pathogens11111376
3. Ellwanger JH, Kulmann-Leal B, Kaminski VL, Valverde-Villegas JM, Veiga ABG, Spilki FR et al. Beyond diversity loss and climate change: impacts of Amazon deforestation on infectious diseases and public health. An Acad Bras Cienc. 2020;92(1):e20191375. https://doi.org/10.1590/0001-3765202020191375
4. Kaye AD, Okeagu CN, Pham AD, Silva RA, Hurley JJ, Arron BL et al. Economic impact of COVID-19 pandemic on healthcare facilities and systems: international perspectives. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2021;35:293-306. https://doi.org/10.1016/j.bpa.2020.11.009
5. Mathieu E, Ritchie H, Rodés-Guirao L, Appel C, Gavrilov D, Giattino C et al. Coronavirus (COVID-19) deaths. Our World in Data. Oxford: Global Change Data Lab; 2020 [acesso 2023 jan 25]. Disponível em: https://ourworldindata.org/covid-deaths
6. Hektoen L, Perkins CF. Refractory subcutaneous abscesses caused by Sporothrix schenckii. A new pathogenic fungus. J Exp Med. 1900;5(1):77-89. https://doi.org/10.1084/jem.5.1.77
7. Lutz A, Splendore A. Sobre uma micose observada em homens e ratos: contribuição para o conhecimento das assim chamadas esporotricoses. books.scielo.org. 1907 [acesso 2023 Out 13]. Disponível em: https://books.scielo.org/id/7qmnz/22
8. Pupo JA. Sporotrichose no Brasil. An Paul Med Circ. 1920;11:200-7.
9. Rodrigues AM, Gonçalves SS, Carvalho JA, Borba-Santos LP, Rozental S, Camargo ZP. Current progress on epidemiology, diagnosis, and treatment of sporotrichosis and their future trends. J Fungi. 2022;8(8):776. https://doi.org/10.3390/jof8080776
10. Orofino-Costa R, Macedo PM, Rodrigues AM, Bernardes-Engemann AR. Sporotrichosis: an update on epidemiology, etiopathogenesis, laboratory and clinical therapeutics. An Bras Dermatol. 2017;92(5):606-20. https://doi.org/10.1590/abd1806-4841.2017279
11. Rodrigues AM, Hagen F, Camargo ZP. A spotlight on Sporothrix and sporotrichosis. Mycopathologia. 2022;187(4):407-11. https://doi.org/10.1007/s11046-022-00642-9
12. Barros MBL, Paes RA, Schubach AO. Sporothrix schenckii and sporotrichosis. Clin Microbiol Rev. 2011;24(4):633-54. https://doi.org/10.1128/CMR.00007-11
13. Rodrigues AM, Teixeira MM, Hoog GS, Schubach TMP, Pereira SA, Fernandes GF et al. Phylogenetic analysis reveals a high prevalence of Sporothrix brasiliensis in feline sporotrichosis outbreaks. PLoS Negl Trop Dis. 2013;7(6):e2281. https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0002281
14. Jongman EC. Adaptation of domestic cats to confinement. J Vet Behav. 2007;2(6):193-6. https://doi.org/10.1016/j.jveb.2007.09.003
15. Conselho Federal de Medicina Veterinária CFMV. Por que a esporotricose é questão de saúde pública? [acesso 2023 Abr 06]. Disponível em: https://www.cfmv.gov.br/por-que-a-esporotricose-e-questao-de-saude-publica/comunicacao/noticias/2020/07/30/
16. Ministério da Saúde (BR). Portaria GM/MS Nº 6.734, de 18 de março de 2025. Altera o Anexo 1 do Anexo V da Portaria de Consolidação GM/MS nº 4, de 28 de setembro 2017, para incluir a esporotricose humana na Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 31 mar 2025. Seção 1;61:82-3.
17. Tóffoli EL, Ferreira FMS, Cisi VL, Domingues LM. Esporotricose, um problema de saúde pública: revisão. Pubvet, 2022;16(12):e1280. https://doi.org/10.31533/pubvet.v16n12a1280.1-7
18. Junqueira ANN, Galera P. Characteristics of the population of dogs and cats in Brazil. ACTA. 2019;13(2):77-86. https://doi.org/10.21708/avb.2019.13.2.8028
19. Coordenadoria de Vigilância em Saúde. Secretaria Municipal da Saúde. Prefeitura do Município de São Paulo. Vigilância e controle da esporotricose em animais no município de São Paulo. São Paulo: [s.n.]; 2022. 45 p. [acesso 2023 Abr 06]. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/nota_tecnica_esporotricose_animal_20_10_22.pdf
20. Instituto Pasteur. População de cães e gatos. São Paulo: Coordenadoria de Controle de Doenças; 2018. [acesso 2023 Set 20]. Disponível em: https://www.saude.sp.gov.br/resources/instituto-pasteur/pdf/vacinacao/populacao_de_caes_e_gatos_2018.pdf
21. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. Atlas Brasil. Ranking municipal – São Vicente (SP). Brasília; 2023. [acesso 2023 Abr 06]. Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/ranking
22. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Cidades e estados. São Vicente. [acesso 2023 Abr 06]. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/sp/sao-vicente.html
23. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. Índice de Vulnerabilidade Social. Atlas da Vulnerabilidade Social. [acesso 2023 Abr 06]. Disponível em: https://ivs.ipea.gov.br/#/
24. Mello K, Toppa RH, Abessa DMS, Castro M. Dinâmica da expansão urbana na zona costeira brasileira: o caso do município de São Vicente, São Paulo, Brasil. JICZM. 2013;13(4):539-51. https://doi.org/10.5894/rgci432
25. Conselho Federal de Medicina Veterinária. Resolução nº 1138, de 16 de dezembro de 2016. Aprova o Código de Ética do Médico Veterinário. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 25 jan 2017. Seção 1:107-9.
26. Divisão de Vigilância de Zoonoses – DVZ. Casos novos positivos de esporotricose em animais por UVIS/2021. [acesso 2025 Ago 17]. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/00000%20DVZ%20Educação/casos_novos_de_esporotricose_animal_em_221_-_divididos_por_uvis.pdf
27. Montenegro H, Rodrigues AM, Dias MAG, Silva EA, Bernardi F, Camargo ZP. Feline sporotrichosis due to Sporothrix brasiliensis: an emerging animal infection in São Paulo, Brazil. BMC Vet Res. 2014;10:269. https://doi.org/10.1186/s12917-014-0269-5
28. Paiva MT, Oliveira CSF, Nicolino RR, Bastos CV, Lecca LO, Azevedo MI et al. Spatial association between sporotrichosis in cats and in human during a Brazilian epidemics. Prev Vet Med. 2020;183:105125. https://doi.org/10.1016/j.prevetmed.2020.105125
29. Moreira SM, Andrade EHP, Paiva MT, Zibaoui HM, Salvato LA, Azevedo MI et al. Implementation of an animal sporotrichosis surveillance and control program, Southeastern Brazil. Emerg Infect Dis. 2021;27(3):949-52. https://doi.org/10.3201/eid2703.202863
30. Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária (BR). Número de casos novos diagnosticados de esporotricose por ano, áreas programáticas, regiões administrativas e bairros, município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Coordenação de Vigilância de Zoonoses (BR); 2020. [acesso 2023 Abr 13]. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/10308893/4317403/ESPOROTRICOSEJANATEDEZ_2020_v2.pdf
31. Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária (BR). Número de casos novos diagnosticados de esporotricose por ano, áreas programáticas, regiões administrativas e bairros do município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Coordenação de Vigilância de Zoonoses; 2021. [acesso 2023 Abr 13]. Disponível em: https://vigilanciasanitaria.prefeitura.rio/wp-content/uploads/sites/84/2023/05/2021-1.pdf
32. Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária (BR). Número de casos novos diagnosticados de esporotricose por ano, áreas programáticas, regiões administrativas e bairros do município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Coordenação de Vigilância de Zoonoses (BR); 2022. [acesso 2023 Abr 13]. Disponível em: https://vigilanciasanitaria.prefeitura.rio/wp-content/uploads/sites/84/2023/05/2022-1.pdf
33. Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária (BR). Número de casos diagnosticados de esporotricose por ano, áreas programáticas, regiões administrativas e bairros no município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Coordenação de Vigilância de Zoonoses; 2023. [acesso 2023 Abr 13]. Disponível em: https://vigilanciasanitaria.prefeitura.rio/wp-content/uploads/sites/84/2024/05/ESPORO_2023_.pdf
34. Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária (BR). Número de casos diagnosticados de esporotricose por ano, áreas programáticas, regiões administrativas e bairros no município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Coordenação de Vigilância de Zoonoses; 2024. [acesso 2025 Jan 28]. Disponível em:
35. Rodrigues AM, Terra PPD, Gremião ID, Pereira SA, Orofino-Costa R, Camargo ZP. The threat of emerging and re-emerging pathogenic Sporothrix species. Mycopathologia. 2020;185(5):813-42. https://doi.org/10.1007/s11046-020-00425-0
36. Kovarik CL, Neyra E, Bustamante B. Evaluation of cats as the source of endemic sporotrichosis in Peru. Med Mycol. 2008;46(1):53-6. https://doi.org/10.1080/13693780701567481
37. Soto MCR. Is epidemic of sporotrichosis in Abancay, Peru, caused by zoonotic transmission of Sporothrix? Rev Iberoam Micol. 2016;33(4):256-8. https://doi.org/10.1016/j.riam.2016.03.006
38. Hernández-Castro R, Pinto-Almazán R, Arenas R, Sánchez-Cárdenas CD, Espinosa-Hernández VM, Sierra-Maeda KY et al. Epidemiology of clinical sporotrichosis in the Americas in the last ten years. J Fungi. 2022;8(6):588. https://doi.org/10.3390/jof8060588
39. Chakrabarti A, Bonifaz A, Gutierrez-Galhardo MC, Mochizuki T, Li S. Global epidemiology of sporotrichosis. Med Mycol. 2015;53(1):3-14. https://doi.org/10.1093/mmy/myu062
40. O’Reilly LC, Altman SA. Macrorestriction analysis of clinical and environmental isolates of Sporothrix schenckii. J Clin Microbiol. 2006;44(7):2547-52. https://doi.org/10.1128/JCM.00078-06
41. Song Y, Li SS, Zhong SX, Liu YY, Yao L, Huo SS. Report of 457 sporotrichosis cases from Jilin province, northeast China, a serious endemic region. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2013;27(3):313-8. https://doi.org/10.1111/j.1468-3083.2011.04389.x
42. Rodrigues ML, Albuquerque PC. Searching for a change: the need for increased support for public health and research on fungal diseases. PLoS Negl Trop Dis. 2018;12(6):e0006479. https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0006479
43. Global Action For Fungal Infections – GAFFI. Fungal disease frequency. Londres: GAFFI; 2013. [acesso 2023 Out 14]. Disponível em: https://gaffi.org/why/fungal-disease-frequency/
44. Barros MBL, Schubach TP, Coll JO, Gremião ID, Wanke B, Schubach A. Esporotricose: a evolução e os desafios de uma epidemia. Rev Panam Salud Publica. 2010;27(6):455-60. https://iris.paho.org/handle/10665.2/9675
45. Muñoz-Pacheco CB, Villaseñor NR. Is there a relationship between socioeconomic level, vegetation cover, free-roaming cats and dogs, and the diversity of native birds? A study in a Latin American capital city. Sci Total Environ. 2023;891:164378. https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2023.164378
46. Lecca LO, Paiva MT, Oliveira CSF, Morais MHF, Azevedo MI, Bastos CVE et al. Associated factors and spatial patterns of the epidemic sporotrichosis in a high density human populated area: a crosssectional study from 2016 to 2018. Prev Vet Med. 202;176:104939. https://doi.org/10.1016/j.prevetmed.2020.104939
47. Barros MBL, Schubach AO, Schubach TMP, Wanke B, Lambert-Passos SR. An epidemic of sporotrichosis in Rio de Janeiro, Brazil: epidemiological aspects of a series of cases. Epidemiol Infect. 2008;136(9):1192-6. https://doi.org/10.1017/S0950268807009727
48. Moura A, Resende AM, Faria BWF, Emediato CCF, Starling CCD, Santiago CF et al. Esporotricose: protocolo de enfrentamento da doença em Belo Horizonte. Prefeitura de Belo Horizonte, 2018. Disponível em: https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-de-governo/saude/2018/documentos/publicacoes%20atencao%20saude/protocolo_esporotricose-6-7-2018.pdf
49. Souza EW, Borba CM, Pereira AS, Gremião IDF, Langohr IM, Oliveira MME et al. Clinical features, fungal load, coinfections, histological skin changes, and itraconazole treatment response of cats with sporotrichosis caused by Sporothrix brasiliensis. Sci Rep. 2018;8:9074. https://doi.org/10.1038/s41598-018-27447-5
50. Chaves AR, Campos MP, Barros MBL, Carmo CN, Gremião IDF, Pereira SA, Schubach TMP. Treatment abandonment in feline sporotrichosis – study of 147 cases. Zoonoses Public Health. 2013;60(2):149-53. https://doi.org/10.1111/j.18632378.2012.01506.x

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2025 Ramon Dantas Lopes, Giselle Ferreira Azevedo Pinto , Andrea Gobetti Coelho Bombonatte