Sobre a presença do Tifo exantemático do tipo murino ou endêmico em São Paulo
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Como Citar

1.
Gomes L de S. Sobre a presença do Tifo exantemático do tipo murino ou endêmico em São Paulo. Rev Inst Adolfo Lutz [Internet]. 16º de janeiro de 1941 [citado 5º de novembro de 2024];1(1):21-39. Disponível em: https://periodicos.saude.sp.gov.br/RIAL/article/view/33053

Resumo

Depois de passar em revista alguns dos principais trabalhos que concorreram para a perfeita individualização da entidade nosológica conhecida com a denominação de tifo endêmico ou murino, refere-se o A. às tentativas infrutíferas feitas por pesquisadores de S. Paulo em 1932-1934 no sentido de isolar o vírus endêmico de ratos da cidade, em cuja zona suburbana desde 1929 apareceram os primeiros casos de "tifo exantemático de S. Paulo". Continuando a revista de trabalhos produzidos sobre o assunto no continente Sul Americano, cita observações de casos ultimamente ocorridos na Venezuela. De doentes da cidade de S. Paulo o A. tentou desde 1932, sem resultado, a obtenção de outros tipos de vírus exantemático. Refere, porem, que tem obtido R. de Weil Felix com títulos às vezes altos e outras vezes aumentando no curso da moléstia, em soros enviados pelos Centros de Saúde de algumas cidades .do interior do Estado. Muitos destes casos, segundo informações, têm apresentado infecção benigna, do tipo gripal. O A. pergunta: estes casos não poderiam ser ligados à possível existência do tifo murino no interior, ou então a uma variante "mais benigna, mais rural e difusa" do tifo exantemático de S. Paulo, como acontece com a febre exantemática dos Montes Rochosos na América do Norte? Diz ainda que em Minas Gerais têm sido encontrados casos até ambulatórios do tifo exantemático local. Entrando propriamente no assunto do seu trabalho, estuda quatro casos que observou em 1940, na· cidade de S. Paulo, os quais, pelos dados epidemiológicos, pela evolução clínica, pelas provas sorológicas e por algumas provas experimentais e imunológicas (estas últimas infelizmente não levadas a termo por perda do vírus nas experiências iniciais), poderão ser considerados como casos prováveis de tifo endêmico ou murino. Três dos doentes eram capturadores de ratos ou pulgas da Secção de Epidemiologia do Dep. de Saúde, e o quarto - negociante de sacos junto aos grandes armazéns de comestíveis da R. Paula Souza, na cidade. Clinicamente apresentavam os sintomas em geral encontrados no tifo endêmico: mal-estar, dor de cabeça, dor nas pernas, calafrios, anorexia, febre, sudorese, congestão conjuntival, fotofobia e adinamia. A febre manteve-se alta (38,5 a 40°) durante cerca de 6 dias e o período febril total demorou de 13 a 16 dias. Três doentes apresentavam um leve exantema esparso, localizado nas faces anteriores e laterais do tórax e na parte média do braço. Esse exantema durou alguns dias, aparecendo depois da febre e desaparecendo antes de a temperatura normalizar-se. Todos sararam. As R. de Weil-Felix dos quatro doentes aumentaram de título aglutinante no curso da infecção. Duas cobaias reagiram um pouco tardiamente e sem a curva térmica típica, após inoculação dos sangues de dois doentes; mas outras cobaias, nas primeiras passagens do vírus, apresentaram reação escrotal que cedeu com a defervescência sem deixar vestígio. O A. não pode cruzar o vírus recém isolado, com o do tifo exantemático de S. Paulo, como já disse por tê-lo perdido nas primeiras passagens.. Duas cobaias, porem, que reagiram termicamente com o sangue de 2 doentes; e que sararam, reagiram de novo ao serem re-inoculadas com o vírus do tifo exantemático de S. Paulo, o que mostra, embora unilateralmente, que o primeiro vírus não conferiu imunidade contra o segundo, por serem possivelmente diferentes. O A. pensa que sejam estes os primeiros casos prováveis de tifo endêmico ou murino, estudados em S. Paulo e quiçá no Brasil. Prefere chama-los “prováveis” ao menos até que possa obter e estudar mais detalhadamente novos vírus de doentes, ou então até que consiga demonstrar na fauna murina da cidade a presença do vírus da moléstia. Estas pesquisas, aliás, já foram iniciadas, mas não comportam ainda conclusão definitiva.

 

https://doi.org/10.53393/rial.1941.1.33053
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