Desafios para o desenvolvimento da vacina antimeningocócica B

Autores

  • Raphael Gonçalves Nicésio Instituto Adolfo Lutz
  • Denise Fusco Marques Instituto Adolfo Lutz
  • Elisabete Cardiga Alves Instituto Adolfo Lutz – Centro de Laboratório Regional de São José do Rio Preto
  • Ivete Aparecida Zago Castanheira de Almeida Instituto Adolfo Lutz - Centro de Laboratório Regional de Ribeirão Preto – VI

Resumo

 A doença meningocócica (DM) é transmitida por gotículas respiratórias e é causada pela bactéria Neisseria meningitidis ou meningococo. A estrutura externa da bactéria é formada por uma membrana polissacarídica, que somada às proteínas antigênicas define os sorogrupos meningocócicos, importantes fatores na imunogenicidade. Dentre os treze sorogrupos existentes, cinco (A, B, C, Y e W) são os causadores da DM. Os mecanismos de defesa do organismo hospedeiro contra a doença são as ativações da cascata da coagulação e do sistema complemento. A troca de porções antigênicas da superfície bacteriana dificulta a erradicação do micro-organismo causador da DM, que possui maior incidência em crianças menores de cinco anos, principalmente em menores de um ano. Em razão disso, a vacinação grupo-específica é a forma mais indicada para prevenir epidemias meningocócicas, com diferentes níveis de incidência em cada continente. Ainda não há uma vacina eficaz para crianças contra o meningococo B devido à sua similaridade antigênica com células de tecido do hospedeiro. Como este sorogrupo bacteriano é pouco imunogênico, induz a tolerância imunológica no hospedeiro. A fim de desenvolver métodos efetivos de proteção contra o meningococo B, grupos de pesquisadores realizaram várias investigações, como a utilização de vacinas polissacarídicas puras, conjugadas e de proteínas bacterianas com características moleculares semelhantes, porém sem bons resultados. Em contraposição, a descoberta promissora da vacinologia reversa no ano de 2000 teve importante impacto nas pesquisas quando, pelo sequenciamento genômico, foi possível detectar antígenos conservados nas diferentes cepas meningocócicas, auxiliando na produção de vacinas mais eficazes contra os sorogrupos.   

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Referências

Cushing K, Cohn A. Meningococcal disease. In: Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Manual for the surveillance of vaccine-preventable diseases. 4. ed. Atlanta: Centers for Disease Control and Prevention, 2008.

Ministério da Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de Vigilância Epidemiológica. 7. ed. Brasília (DF); 2009.

Hill DJ, Griffiths NJ, Borodina E, Virji M. Cellular and molecular biology of Neisseria meningitidis colonization and invasive disease. Clin Sci. 2010;118(1): 547-64.

Harrison LH. Prospects for vaccine prevention of meningococcal infection. Clin Microbiol Rev. 2006;19(1):142-64. 5. Granoff DM. Review of meningococcal group B vaccines. Clin Infect Dis. 2010; 50(2):54-65.

Requejo HIZ. A meningite meningocócica no mundo: dois séculos de história das epidemias. São Paulo: Edições Inteligentes; 2004.

Manchanda V, Gupta S, Bhalla P. Meningococcal disease: history, epidemiology, pathogenesis, clinical manifestations, diagnosis, antimicrobial susceptibility and prevention. Indian J Med Microbiol. 2006; 24(1):7-19.

Fonseca C, Moraes JC, Barata RB. O livro da meningite: uma doença ob a luz da cidade. São Paulo: Segmento Farma; 2004. BEPA 2014;11(128):1-17 página 15 Desafios para o desenvolvimento da vacina antimeningocócica B/Nicésio RG et al.

Requejo HIZ. Meningite meningocócica no Brasil - Cem anos de história das epidemias. NewsLab. 2005; 73:158-64.

Organização Mundial da Saúde. Meningococcal vaccines: WHO position paper, november 2011. WER. 2011; 86(47):521-40.

Stella-Silva N, Oliveira AS, Marzochi KBF. Doença meningocócica: comparação entre formas clínicas. Rev Soc Bras Med Trop. 2007;40(3):304-10.

Ministério da Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias. 8. ed. rev. Brasília (DF); 2010.

Kristiansen BE, Tveten Y, Jenkins A. Which contacts of patients with meningococcal disease carry the pathogenic strain of Neisseria meningitidis? A population based study. Brit Med J. 1998; 317(1):621-5.

Caugant DA, Maiden MCJ. Meningococcal carriage and disease – population biology and evolution. Vaccine. 2009; 27(4):64-70.

Bricks LF. Doenças meningocócicas – morbidade e epidemiologia nos últimos 20 anos: revisão. Pediatria. 2002; 24(3/4):122-31.

Choudhuri D, Huda T, Theodoratou E, Nair H, Zgaga L, Falconer R, et al. An evaluation of emerging vaccines for childhood meningococcal disease. BMC Public Health. 2011;11(3):29-43.

Ministério da Saúde, Sistema de Informação de Agravos de Notificação [base de dados na internet]. Meningite – casos confirmados notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net. Brasília (DF); 2013. [acesso em 11 fev. 2014]. Disponível em: http://dtr2004. saude.gov.br/sinanweb/

Krebs VLJ, Taricco LD. Fatores de risco para meningite bacteriana no recém-nascido. Arq Neuropsiquiatr. 2004; 63(3-A):630-34.

Racloz VN, Luiz SJD. The elusive meningococcal meningitis serogroup: a systematic review of serogroup B epidemiology. BMC Infect Dis. 2010; 10(1):175-83.

Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE). Doença meningocócica: casos e porcentagens por sorogrupo no Estado de São Paulo – 1998 a 2013. São Paulo: Coordenadoria de Controle de Doenças, 2013. [acesso em 11 fev. 2014]. Disponível em: http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/ resp/dm_soro.htm

Liu TY, Gotschlich EC, Dunne FT, Jonssen EK. Studies on the meningococcal polysaccharydes. II. Composition and chemical properties of the group B and C polysaccharides. J Biol Chem. 1971;246(15):4703-12.

Bhattacharjee AK, Jennings HJ, Kenny CP, Martin A, Smith ICP. Structural determination of the sialic acid polysaccharide antigens of Neisseria meningitidis serogroups B and C with carbon 13 nuclear magnetic resonance. J Biol Chem. 1975;250(5):1926-32.

Russell JE, Jolley KA, Feavers IM, Maiden MCJ, Suker J. PorA variable regions of Neisseria meningitidis. Emerg Infect Dis. 2004;10(4):674-8.

Henry T, Pommier S, Journet L, Bernadac A, Gorvel JP, Lloubès R. Improved methods for producing outer membrane vesicles in gram-negative bacteria. Res Microbiol. 2004;155(6):437-46.

Kuehn MJ, Kesty NC. Bacterial outer membrane vesicles and the host pathogen interaction. Genes Dev. 2005;19(1):2645-55. BEPA 2014;11(128):1-17 página 16 Desafios para o desenvolvimento da vacina antimeningocócica B/Nicésio RG et al.

Stollenwerk N, Maiden MCJ, Jansen VAA. Diversity in pathogenicity can cause outbreaks of meningococcal disease. Proc Natl Acad Sci. 2004;101(27):10229-34.

Joseph B, Schneiker-Bekel S, Schramm-Glück A, Blom J, Claus H, Linke B, et al. Comparative genome biology of a serogroup B carriage and disease strain supports a polygenic nature of meningococcal virulence. J Bacteriol. 2010; 192(20):5363-77.

Giuliani MM, Adu-Bobie J, Comanducci M, Aricò B, Savino S, Santini L, et al. A universal vaccine for serogroup B meningococcus. Proc Natl Acad Sci. 2006; 103(29):10834-9.

Requejo HIZ. Comportamento imunológico das vacinas anti-meningocócicas. Rev Saúde Pública. 1997;31(4):402-16.

Sierra GV, Campa HC, Varcacel NM, Garcia IL, Izquierdo PL, Sotolongo PF, et al. Vaccine against group B Neisseria meningitidis: protection trial and mass vaccination results in Cuba. NIPH Ann. 1991;14(2):195-207.

Moraes JC, Perkins PA, Camargo MCC, Hidalgo NTR, Barbosa HA, Sacchi CT, et al. Protective efficacy of a serogroup B meningococcal vaccine in Sao Paulo, Brazil. The Lancet. 1992;340(1):1074-8.

Noronha CP, Struchiner CJ, Halloran ME. Assessment of the direct effectiveness of BC meningococcal vaccine in Rio de Janeiro, Brazil: a case-control study. Int J Epidemiol. 1995;24(5):1050-7.

Costa EA, Martins H, Klein CH. Avaliação da proteção conferida pela vacina antimeningocócica BC no Estado de Santa Catarina, Brazil, 1990/92. Rev Saúde Pública. 1996;30(5):460-70.

Costa EA. On the controversy about the efficacy of the antimeningococcal B vaccine: methodological pitfalls. Cad Saúde Pública. 1995;11(2):332-5.

Padrón FS, Huergo CC, Gil VC, Díaz EMF, Valdespino IEC, Gotera NG. Cuban meningococcal BC vaccine: experiences & contributions from 20 years of application. MEDICC Rev. 2007;9(1):16-22.

Peeters CC, Rümke HC, Sundermann LC, Van der Voort EMR, Meulenbelt J, Schuller M, et al. Phase I clinical trial with a hexavalent PorA containing meningococcal outer membrane vesicle vaccine. Vaccine. 1996;14(10):1009-15.

Devi SJN, Robbins JB, Schneerson R. Antibodies to poly[(2→8)-α-Nacetylneuraminic acid] and poly[(2→9)- α-N-acetylneuraminic acid] are elicited by immunization of mice with Escherichia coli K92 conjugates: potencial vaccines for groups B and C meningococci and E. coli K1. Proc Natl Acad Sci. 1991;88(1): 7175-79.

Vivona S, Bernante F, Filippini F. NERVE: New Enhanced Reverse Vaccinology Environment. BMC Biotechnology. 2006;6(35):1-8.

Sáfadi MAP, Barros AP. Vacinas meningocócicas conjugadas: eficácia e novas combinações. J Pediatr. 2006;82(3):35-44.

Findlow J, Borrow R, Snape MD, Dawson T, Holland A, John TM, et al. Multicenter, open-label, randomized phase II controlled trial of an investigational recombinant meningococcal serogroup B vaccine with and without outer membrane vesicles, administered in infancy. Clin Infect Dis. 2010;51(10):1127-37.

Snape MD, Dawson T, Oster P, Evans A, John TM, Ohene-Kena B, et al. Immunogenicity of two investigational serogroup B meningococcal vaccines in the first year of life: a randomized comparative trial. Pediatr Infect Dis J. 2010;29(11): 71-9.

Bai X, Findlow J, Borrow R. Recombinant protein meningococcal serogroup B vaccine combined with outer membrane vesicles. Expert Opin Biol Ther. 2011; 11(7):969-85.

Gossger N, Snape MD, Yu LM, Finn A, Bona G, Esposito S, et al. Immunogenicity and tolerability of recombinant serogroup B meningococcal vaccine administered with or without routine infant vaccinations according to different immunization schedules. JAMA. 2012;307(6):573-82.

Vesikari T, Esposito S, Prymula R, Ypma E, Kleinschmidt A, Toneatto D, et al. Use of an investigational multicomponent meningococcal serogroup B vaccine (4CMenB) in a clinical trial in 3630 infants. Arch Dis Child. 2011; 96 Suppl. 1 A3.

Santolaya ME, O’Ryan ML, Valenzuela MT, Prado V, Vergara R, Muñoz A, et al. Immunogenicity and tolerability of a multicomponent meningococcal serogroup B (4CMenB) vaccine in healthy adolescents in Chile: a phase 2b/3 randomised, observerblind, placebo-controlled study. Lancet. 2012;379(9816):617-24

Downloads

Publicado

2014-08-29

Como Citar

1.
Gonçalves Nicésio R, Fusco Marques D, Cardiga Alves E, Zago Castanheira de Almeida IA. Desafios para o desenvolvimento da vacina antimeningocócica B. Bepa [Internet]. 29º de agosto de 2014 [citado 13º de maio de 2024];11(128):1-17. Disponível em: https://periodicos.saude.sp.gov.br/BEPA182/article/view/38208

Edição

Seção

Artigos de Revisão sistemática/metanálise

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)