Abstract
Todos os organismos vivos, abrangendo desde microrganismos até plantas e animais, evoluíram de forma a desenvolver mecanismos para ativamente defender-se contra o ataque de patógenos. Peptídeos antimicrobianos são importantes componentes do sistema imune dos vertebrados e invertebrados podendo ser agrupados de acordo com suas propriedades químicas e estruturais. Podem agir na membrana plasmática de microrganismos formando poros na bicamada de fosfolipídeos ou ser internalizado e atuar sobre alvos intracelulares. Estudos sobre a biodiversidade de moléculas antimicrobianas nos vários grupos de artrópodes podem ser importantes para se entender o processo imunológico de uma maneira mais ampla, possibilitando compreender as relações existentes entre os vários sistemas, bem como sua origem, além de poder contribuir para a produção e utilização de novas drogas para o uso na medicina e na agricultura. O objetivo deste trabalho foi verificar a produção de substâncias antimicrobianas, como observada em outros artrópodes, utilizando a aranha Acanthoscurria rondoniae como exemplo, por meio da purificação e caracterização de moléculas presentes na hemolinfa e caracterizando-as para um entendimento mais amplo dos processos envolvidos no sistema imune de aracnídeos e dos artrópodes em geral. Neste trabalho foram encontradas três frações com atividade antimicrobiana nos hemócitos que apresentaram massa molecular de 2.270,3 Da, 418,2 Da e 10.111,8 Da, respectivamente. Essas massas, quando comparadas às encontradas em A. gomesiana, mostram similaridade com a gomesina, mygalina e acanthoscurrina, podendo indicar que as duas espécies apresentam as mesmas moléculas antimicrobianas em seus hemócitos. No plasma, foram encontradas seis frações, mas somente uma, que apresentou massa molecular de 1.236,776 Da, foi caracterizada, e recebeu o nome de rondonina em homenagem à espécie estudada. Pela primeira vez foi observado em aracnídeos um peptídeo antimicrobiano que provavelmente é processado a partir da hemocianina, um fragmento C-terminal. É um peptídeo de baixa massa molecular e que teve sua sequência primária elucidada IIIQYEGHKH, com identidade com um fragmento C-terminal da subunidade “D” da hemocianina da aranha Eurypelma californicum e, quando comparada ao banco de dados dos hemócitos de Acanthoscurria gomesiana, mostrou identidade com um fragmento da hemocianina da subunidade “D” e 90% de identidade com um fragmento da subunidade “F”. Também foi encontrada no plasma de Vitalius wacketi, Nhandu coloratovillosus, A. gomesiana, Lasiodora parahybana. Rondonina foi sintetizada e sua atividade contra bactérias gram-negativas, gram-positivas, fungos e leveduras foi avaliada. Como antifúngico, em concentração na faixa de micromolar (μM), em 10 minutos, não se encontrou conídeos viáveis. Não apresenta atividade hemolítica, o que pode permitir o desenvolvimento de uma nova droga responsável no combate a microrganismos patógenos.
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Copyright (c) 2016 Katie Cristina Takeuti Riciluca, Pedro Ismael da Silva Jr. (Orientador)