Abstract
Inicio este editorial com tristeza, homenageando um grande profissional, um pensador de vanguarda na saúde pública e, especialmente, um admirado e querido amigo, de quem nos despedimos no dia 17 de julho: Luiz Roberto Barradas Barata. Nesse dia, pela primeira vez, ele faltou à saúde pública, que defendeu com intransigência, durante toda sua vida profissional. Nascido em Santo André, geminiano de 23 de maio, trazia em si a inquietação dos cientistas e a solidariedade dos humanistas. Justo, seguro, sério, soube conduzir nossa Secretaria em um processo de modernização e reflexão que buscou, sempre, o aprimoramento dos resultados e uma crescente qualidade aliada à humanização dos serviços. Médico, especializado em saúde pública, administração de serviços de saúde e administração hospitalar, passou 33 anos nesta Secretaria, metade dos quais à frente de seu comando, primeiro como secretário-adjunto e, depois, como seu titular, mantido por cinco governadores. Seu único afastamento foi para prestar assessoria técnica a José Serra, durante sua gestão no Ministério da Saúde, definida como “impecável” pelo próprio ministro. Mas a biografia do profissional é conhecida por todos. Quero falar aqui do jovem idealista, que não buscou o caminho do consultório particular e bem remunerado, mas voltou-se ao cuidado dirigido àqueles que mais necessitavam. Do jovem profissional que lutou por seus ideais de liberdade e justiça. A construção do Sistema Único de Saúde foi um de seus primeiros objetivos. Ao lado de nomes dos mais respeitados, como Walter Leser, Adib Jatene, João Yunes, José da Silva Guedes, José Carlos Seixas e tantos outros, trabalhou na construção e consolidação das ações integradas de saúde, primeiro passo para a construção do SUS. Aprofundando e consolidando essa iniciativa, fez parte do grupo que colaborou e viabilizou a instituição de um sistema de saúde universal, integrado e inclusivo. Pioneiro, colaborou também na adoção de um novo modelo voltado à valorização das instituições filantrópicas sérias, com a instituição das sociais de saúde, que permitem a formação de parcerias entre o governo do Estado e entidades do terceiro setor que passaram a atuar na gestão de hospitais públicos. O sucesso desse modelo é atestado por sua adoção em 14 Estados, e permitiu que se pudesse obter maior eficiência e qualidade natação de serviços de saúde aos pacientes da rede pública. No período em que esteve no comando da saúde paulista, a Secretaria entregou 31 novos hospitais; criou o programa Dose Certa, para distribuição de medicamentos básicos à população; construiu duas novas fábricas de remédios e uma de vacinas. Reorganizou, ainda, toda a rede de atendimento em São Paulo: entregou o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – maior centro de oncologia da América Latina; idealizou e entregou 31 AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades), que oferecem um modelo mais ágil e moderno de consultas e exames. E mais: idealizou a Lei Antifumo, humanizou o atendimento nos hospitais, realizou mutirões de consultas e exames, lançou, juntamente com José da Silva Guedes, então secretário de Estado da Saúde, um programa de promoção da atividade física, adotado como exemplo pela Organização Mundial de Saúde, e entregou o primeiro hospital público especializado em transplantes do Brasil, Hospital Brigadeiro, hoje Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo “Doutor Euryclides de Jesus Zerbini”. Entre suas primeiras decisões, destacam-se também a instituição de programas de humanização do atendimento, com destaque para os Jovens Acolhedores, investindo em uma marca de cuidado e carinho com os que buscam nossos serviços. Durante a pandemia de influenza A H1N1 mostrou sua firme liderança, integrando instâncias administrativas e serviços, articulando o setor público aos prestadores de serviços privados, providenciando insumos diagnósticos avançados, apoiando e fortalecendo a capacidade de pesquisa e dotando as instituições da necessária agilidade de resposta, iniciativa que permitiu pronto e adequado gerenciamento de um agravo inteiramente novo. A nós, resta a saudade de sua presença marcante, de sua liderança e de seu exemplo de vida. E o privilégio de termos com ele convivido. Nesta edição, incluímos dois artigos de sua autoria: o último por ele escrito, avaliando os resultados de um ano de vigência da Lei Antifumo, publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 19 de julho de 2010, e outro, também publicado na Folha, em 2 de fevereiro de 2010, em que apresenta uma reflexão sobre o Sistema Único de Saúde.
Clelia Maria Aranda
Editora
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