Resumen
Nas últimas três décadas a leishmaniose visceral (LV) tem se expandido para os grandes centros urbanos no
Brasil. Dentre os fatores que contribuíram para esta urbanização, encontram-se as dificuldades na execução das
medidas de controle, principalmente aquelas relacionadas ao reservatório canino, além da ineficiência no controle
vetorial. As estratégias de controle não têm sido capazes de impedir a expansão geográfica, nem de reduzir a
incidência e letalidade da LV. O controle do reservatório canino é o componente mais efetivamente trabalhado,
sendo os cães domésticos incriminados como a principal fonte de infecção e reservatório de L. infantum chagasi
em ambientes endêmicos urbanos devido a sua proximidade com os humanos. Na cidade de Bauru, desde 2002 a
LV é um grande desafio para os serviços de saúde pública, estando entre os municípios com maior disseminação
dos focos naturais de transmissão e produção de novos casos da LV humana. No presente estudo, em diferentes
bairros de Bauru foram aplicadas distintas estratégias para a identificação e controle dos reservatórios caninos
de L. infantum chagasi em áreas endêmicas para a leishmaniose visceral. No presente estudo, foram constituídas
coortes de cães, para avaliar: a. As taxas de prevalência, incidência e soroconversão no diagnóstico da LV
canina; b. A efetividade das estratégias para a identificação semestral ou anual dos reservatórios caninos de
L. infantum chagasi na redução da prevalência da infecção canina; c. As taxas de entrada e reposição canina;
d. Riscos para LV canina, decorrente do tempo de exposição no ambiente endêmico ou pelo número de cães
nos domicílios; e. Análise ambiental para a identificação da presença de fatores de risco nos domicílios com
cães infectados. Nos bairros Santa Terezinha e Parque Manchester foram realizados inquéritos sorológicos
semestrais e nos bairros Parque Vanuire e Jardim Helena inquéritos sorológicos anuais para a identificação dos
cães infectados e determinação das diferentes taxas. Análise estatística não revelou diferenças significativas
para nenhuma das variáveis categóricas, sexo, faixa etária, porte do animal, tamanho do pelo, sinais clínicos,
quando considerados os resultados globais, para o conjunto dos quatro bairros. Quando da análise das condições
de realização de inquéritos semestrais e anuais, não foi possível identificar diferenças entre as duas condições
de realização da prospecção da infecção na população canina. Foram observadas diferenças significativas em
relação ao ingresso e a reposição canina, respectivamente, em inquéritos subsequentes e em situação de prévio
recolhimento de cães soropositivos. Nos bairros Santa Terezinha e Parque Manchester, a diminuição no intervalo
de tempo entre inquéritos propiciou rápida e drástica redução na prevalência da infecção canina, por volta do
décimo oitavo mês do estudo, entretanto retornou aos valores anteriores nos meses que se seguiram, sendo
identificada a importância do permanente ingresso de novos animais e da reposição de animais infectados. Foi
verificado limitado risco para LV canina em razão do tempo de exposição no ambiente endêmico. Foi observado
que domicílios com mais de dois cães apresentam risco para LV canina cerca de 2,5 (duas vezes e meia) maior
do que imóveis com um ou dois animais. Estes resultados fortalecem do ponto de vista operacional, a estratégia
de busca ativa da infecção canina em intervalos de doze meses.
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