Resumen
O papel principal que espécimes vegetais desempenham no ciclo de vida de fungos é fornecer matéria orgânica para sua proliferação e, nesse habitat, já foram descritas diversas espécies que podem causar infecção humana. Desse modo, é importante conhecer os nichos naturais de agentes com potencial patogênico, de modo a dar subsídios para medidas de prevenção e profilaxia para diminuir o risco de exposição humana. Dentre as espécies oportunistas, destacam-se membros do gênero Cryptococcus spp., que podem causar criptococose, uma das micoses sistêmicas mais letais na atualidade. O objetivo deste trabalho foi investigar a presença de Cryptococcus em nichos ambientais de parques da cidade de São Paulo, em particular, ocos de troncos de espécimes vegetais e ar atmosférico adjacente. Além disso, foi avaliado um novo meio de cultura para isolamento desses agentes. O estudo foi realizado com 45 exemplares, englobando 25 distintas espécies vegetais, localizados em 5 parques nas 5 regiões da cidade. A coleta, de material orgânico retirado de cada oco e ar adjacente ao espécime vegetal foi realizada trimestralmente, durante o período de um ano. Dois meios de cultura foram utilizados para isolamento de colônias de Cryptococcus spp., a saber: o meio clássico de Guizzotia abssynica (ágar niger) e um novo meio, denominado Dicloram Rosa Bengala modificado (DRBCm), que mostrou melhor desempenho para isolamento desses agentes. Cento e vinte e três isolados de Cryptococcus spp. foram obtidos de ocos vegetais (111; 90,2%) e ar atmosférico (12; 9,8%). Vinte (44,5%; 20/45) exemplares pertencentes a 19 espécies vegetais foram positivos para Cryptococcus spp. As espécies de Cryptococcus encontradas em ocos foram: C. neoformans (61,2%; 68/111), C. laurentii (30,6%; 34/111), C. albidus (2,7%; 3/111) e C. terrestris (1,8%; 2/111). Sessenta e oito isolados de C. neoformans foram obtidos de amostras de Hymenaea courbaril e a identificação molecular por PCR/RFLP indicou o tipo molecular VNI. Em uma das amostras positivas para C. neoformans foi verificada, também, a presença concomitante de C. albidus. Em 3,6% (4/111) dos isolados de oco, a espécie de Cryptococcus não pode ser identificada pelos métodos empregados no estudo. Os resultados das análises de ar atmosférico indicaram a ocorrência de: C. laurentii (66,8% 8/12), C. albidus (8,3%; 1/12), C. humicola (8,3%; 1/12), C. flavescens (8,3%; 1/12). Em 1 (8,3%; 1/12) isolado a espécie não pode ser identificada pelos métodos empregados. Quando comparadas as espécies de Cryptococcus encontradas no oco de tronco e no ar adjacente, verificou-se que em 5 coletas (50%, 5/10) elas foram equivalentes. A espécie C. laurentii foi verificada em todas essas 5 coletas, as quais foram realizadas em: G. japônica, M. nictitans, E. speciosa, T. granulosa e L. japonicum. Foi relatado, de modo inédito, o encontro de espécies de Cryptococcus nas seguintes espécimes vegetais: Vochysia tucanorum; Cedrela fissilis; Astronium flaxinifolium; Rapanea umbellata; Gryobotria japônica; Machoenium nictitans; Spathodea campanulata; Plumeria rubr; Casuarina cunninghamiana e Astronium flaxinifolium, ressaltando a amplitude de nichos ambientais desses agentes. Conclui-se que a contaminação por Cryptococcus spp. é extensa em espécimes vegetais de parques da cidade de São Paulo, assim como a possibilidade de dispersão aérea desses agentes. O encontro de C. neoformans do tipo molecular VNI em matéria orgânica de Hymenaea courbaril (Jatobá) foi pioneiro, indicando mais uma fonte potencial de infecção para o agente mais frequente de criptococose. O encontro de C. albidus junto a C. neoformans sugere a possibilidade de um marcador epidemiológico para o maior agente da criptococose mundial. Os resultados deste estudo permitem indicar um novo meio de cultura (DRBCm) para isolamento de Cryptococcus spp. a partir de amostras vegetais. Os dados deste estudo, somados aos de futuras investigações, que complementem a monitoração da ocorrência de agentes de criptococose em áreas de lazer da população urbana de São Paulo, constituem subsídios para medidas de vigilância sanitária para redução do risco de exposição da população a esses agentes oportunistas.
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