Resumo
Em 2010 foi introduzida a vacina pneumocócica conjugada 10-valente (PCV10) no calendário
de imunização infantil no Brasil. Com a introdução das vacinas conjugadas diversos
países reportaram o aumento de Streptococcus pneumoniae do sorotipo 19A (Spn19A) em
portadores e como principal causa de doenças pneumocócicas invasivas (DPI). O objetivo
deste estudo foi avaliar o efeito da introdução da PCV10 nas características fenotípicas e
moleculares de Spn19A isolados de DPI e de portadores. Do banco de dados do Núcleo
de Meningites, Pneumonias e Infecções Pneumocócicas do Instituto Adolfo Lutz foram
selecionadas todas as cepas de Spn19A do período de 2005 a 2013 para as análises de
prevalência e resistência antimicrobiana, e, destas, foram selecionados todos os isolados de
DPI (n=155) de pacientes das faixas etárias mais afetadas pela DPI (<5 anos e ≥50 anos)
para caracterização molecular por Multi Locus Sequence Type. Também foram selecionados
isolados (n=22) de portadores dos anos de 2010 e 2013. De acordo com os dados de vigilância
laboratorial passiva, pode-se notar que apesar do aumento no número de cepas invasivas de
Spn19A, este aumento não foi significativo, variando de 2,8% no período pré-vacinal para
4,4% no período pós-vacinal. Foi observada uma diminuição nos percentuais de resistência
à penicilina nas cepas isoladas de DPI, porém não significativo, de 39,5% para 30,5%
nos períodos pré e pós-vacinal respectivamente, porém houve aumento significativo da
multirresistência nestes períodos (18,5%-43,5%). Das 155 cepas invasivas, no período prévacinal, foi observada prevalência do CC62 (55,2%), principalmente relacionado à ST1118;
neste período este CC apresentava-se disseminado nas cinco regiões geográficas do Brasil.
No período pós-PCV10, o CC320 (53,1%) foi o mais frequente, principalmente relacionado
à ST320, que também foi observada nas cinco regiões geográficas do país. O aumento da
multirresistência foi relacionado à expansão desta ST. Entre as cepas de portadores, foi
observada prevalência da ST733 (35,7%) no ano de 2010 e da ST276 (37,5%), seguida da
ST320 (25,0%) em 2013. Esses resultados sugerem uma mudança genética de Spn19A no
Brasil após a implementação da PCV10. Além do impacto vacinal, outras razões devem ser
consideradas, como a pressão seletiva dos antimicrobianos, a expansão de STs já existentes
e a introdução de novas STs.
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