Resumo
Com o objetivo de investigar a ecoepidemiologia de Leishmania spp. com relação a animais silvestres e aos flebotomíneos vetores, desenvolveram-se estudos em duas áreas no Estado de São Paulo (Ilhabela e Itupeva) no período de outubro de 2000 a setembro de 2009. Foram capturados 2.714 animais, dos quais 21,22% tiveram uma única captura, enquanto 78,78% foram recapturados até 35 vezes. Exemplares de Philander opossum permaneceram até 79 meses no mesmo local em Ilhabela. A recaptura sistemática e o longo tempo de permanência nos mesmos locais de alguns espécimes indicam a existência de territórios bem definidos, principalmente para Philander opossum e Proechimys iheringi. A leishmaniose tegumentar americana no município de Itupeva ocorre em áreas de antiga colonização. Caracteriza-se por apresentar casos humanos e caninos em áreas com intensa ação antrópica próximas à mata e com evidências de participação de Nyssomyia neivai e Nyssomyia whitmani nos ambientes peri e intradomiciliar. Em interior de mata verificou-se que Ny. neivai, Ny. whitmani e Evandromyia edwardsi são as espécies predominantes. Não se observou infecção natural por Leishmania sp. em qualquer dos exemplares de flebotomíneos examinados. Em relação aos possíveis reservatórios silvestres, identificou-se: Leishmania (V.) braziliensis infectando Didelphis albiventris, Nectomys squamipes e Lutreolina crassicaudata e Leishmania sp. em Akodon sp. e D. albiventris. No bairro Monte Serrat, foi isolado Leishmania sp. de um Didelphis albiventris capturado no peridomicílio, podendo este marsupial atuar como elo entre o ciclo silvestre e o doméstico. A presença de L.(L.) infantun chagasi em ciclo silvestre (Akodon sp. e D. albiventris) em região sem leishmaniose visceral (humana ou canina) em Itupeva e a presença do vetor Lutzomyia longipalpis merecem destaque e cuidado redobrado das autoridades de vigilância e controle das leishmanioses, em particular da forma visceral que grassa em todo o território paulista, inclusive em locais com ausência dessa espécie de flebotomíneo. Em Ilhabela, em uma fazenda próxima à área de proteção ambiental, verificou-se a presença concomitante de L. (V) braziliensis e L.(L) amazonensis em exemplares de Proechimys iheringi; também foram encontrados exemplares de P. iheringi e P. opossum infectados por Leishmania sp. capturados em ambiente florestal. Os flebotomíneos mais abundantes foram Ny. intermedia e Migonemyia migonei, tanto em galinheiros no peridomicílio quanto em interior de mata, e houve a presença menos expressiva de Ev. edwardsi nos dois ambientes. Casos humanos de LTA ocorreram em áreas muito próximas às matas, demonstrando estreita relação com ciclos enzoóticos.
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Copyright (c) 2011 H. H. Taniguchi