Sobre um meio de cultura para o Haemophilus ducreyi. Alguns dados técnicos referentes ao isolamento desse bacilo
PDF

Como Citar

1.
Salles Gomes L. Sobre um meio de cultura para o Haemophilus ducreyi. Alguns dados técnicos referentes ao isolamento desse bacilo. Rev Inst Adolfo Lutz [Internet]. 28º de janeiro de 1960 [citado 5º de maio de 2024];20(Único):161-76. Disponível em: https://periodicos.saude.sp.gov.br/RIAL/article/view/33394

Resumo

São recordados, inicialmente, os métodos experimentais de auto e hetero-inoculações humanas através das quais pôde Ducrey cultivar, no próprio foco ulceroso, da 6.a à 15.a geração, e em condições de absoluta pureza, o bacilo que ele julgava ser o único germe responsável pelo cancro mole, e ao qual ficou seu nome definitivamente ligado. É ressaltada, depois, a importância do aparecimento do meio sólido fundamental proposto por Benzançon e colaboradores para a cultura do bacilo (ágar-sangue de coelho), e também mencionadas, de passagem, as principais modificações nele introduzidas por alguns pesquisadores, visando a torná-lo mais favorável ao desenvolvimento do germe. Nesse mesmo sentido resolveu o autor experimentar, também, uma série de alimentos de alto teor nutritivo, optando, afinal, por uma fórmula de meio de cultura em cuja composição figurasse, de modo substancial, uma infusão de batata adicionada de 2% de glícero1. Essa fórmula, detalhadamente descrita no texto, deu-lhe culturas realmente luxuriantes do H. ducreyi (transplantes em placas e tubos), como se pode observar nas fotos que ilustram o trabalho. Depois de fazer referências sobre o modo de utilização e de conservação do meio, o autor passa finalmente à questão do isolamento do bacilo dos focos de infecção, que expõe da maneira como a seguir vai sintetizado:

Se a secreção purulenta destinada à obtenção do bacilo provier de um cancro mole secundário provocado por auto inoculação, o isolamento do germe não oferecerá maiores dificuldades, contanto que o material seja colhido precocemente da lesão e semeado em placas sob boas condições de umidade. A umidade das placas será facilmente obtida pela deposição, na superfície interna das respectivas tampas, de algumas gotas esparsas de solução salina. As placas serão colocadas, invertidas, em estufa regulada a 32° - 34° C cuja umidade ambiente será mantida por 2 recipientes contendo água. Exame das placas 48 a 72 h depois. Por outro lado, tratando-se de pus originário de complicação linfática (bubão inguinal), a semeadura desse material diretamente em tubos, poderá ou não, dar desenvolvimento ao bacilo. A esse propósito, refere o autor a semeadura de pus de 12 bubões fechados, consequentes a cancro mole, obtendo 5 culturas positivas para o H. ducreyi (41,6 %) contra 7 negativas. Examinando, porém, os esfregaços de pus dos 5 casos positivos nas culturas, só dificilmente encontrou bacilos, os quais, além de muito raros, apresentavam uma morfologia involutiva (comprimento e largura 3 a 4 vezes maiores que o normal), mantendo, porém, como única característica, uma discreta hipercoloração das extremidades. A última hipótese a ser considerada - sem dúvida a mais complexa, pela concorrência dos germes de contaminação secundária - é o isolamento do bacilo do próprio foco ulceroso primário. Frente a essa oportunidade, o autor aconselha o uso da seguinte técnica que lhe tem facilitado a obtenção de algumas amostras do germe: o cancro mole deverá sofrer uma limpeza e desinfecção prévias com álcool iodado, seguidas de impermeabilização com colódio e esparadrapo; após 48 horas, 3 a 4 alças do pus (livre de sangue) da lesão, serão agitadas em tubo contendo 1 ml de uma solução de ácido rosólico com concentração igual a 0,01 g %. (Acido rosólico Merck 1 g, álcool absoluto 50 ml, água destilada até completar 100 ml. Diluir 0,1 ml desta solução em 9,9 ml de solução salina e usá-la para o fim indicado.) A suspensão do pus na solução rosólica é agitada e posta na estufa a 32-34° C, retirando-se 4, 8 e 24 horas depois, parcelas do seu sedimento para semeaduras em placas que, por sua vez, serão incubadas, de acordo com as especificações atrás mencionadas. Com a técnica descrita, o autor procurou adaptar a já conhecida ação inibidora (bacteriostática) do corante e indicador – ácido rosólico - para bactérias Gram-positivas em geral, quando em meios de cultura isentos de componentes do sangue, ao isolamento do H. ducreyi presente em secreções sempre contaminadas por diversos tipos daquelas bactérias. É óbvio, finalmente, que o meio de cultura que o autor acaba de apresentar, revelou-se igualmente eficiente para outras espécies do gênero Haemophilus, sendo que Bordetella pertussis pôde ser também facilmente isolada pela exposição das placas ao alcance das partículas mucosas expelidas no momento da tosse.

https://doi.org/10.53393/rial.1960.20.33394
PDF

Referências

1. ASSIS, A. - Sur Ia biologie du bacille de Ducrey. Compt. rendo SoC. Biol., 95: 1003-1009, 1926.

2. BENZANCON, F., V. GRIFFON & L. LE SOURD - Recherches sur Ia culture du bacille de Ducrey. A_nn. Derm Syph., 2: 1-20, 1901.

3. BRONFENBRENNER, J-., M. J. SCHLESINGER & D. SOLETZKY - On methods of isolation and ídentífícatíon of the members of the colon-typhoíd group of bacteria. J. Bacteriology, 5: 79-87, 1920.

4. CALAZANS, S. C. & B. R. PESTANA - Emprêgo do áciuo rosólico no isolamento e identificação dos bacilos do grupo coli-tífico-disentérico em meios sólidos. Mern. Inst. Butantan, 7: 285-302, 1932.

5. CUNHA, R. - Estudos sôbre o Hemopliilus Ducreui. BoI. Inst. Vital Brasil, 25: 13-28, 1943; O Hospital, Rio de .Janeíro, 23: 393-407, 1943.

6. DAVIS, L. - Observations on the dístríbutíon and cultura of the chancroid bacíllus. J. Med. Research., 9: '101-415, 1903.

7. DUCREY, A. - Recherche sperímentalí sulla natura intima del contagio dellulcera verierea e sulla patogenesi del bubbone venereo. Giorn, itaZ. Malat. Ven., 24: 377-425, 1889.

8. FERRARI, P. - Apud A. Ducrey, Op. cito - I1 Bacillo dell'ulcera molle. oommunícazíone all'Accademia Gioenia, 26 luglío 1885.

9. ISTOMANOFF, S. S, & 0-. AKSPIANZ - Apud, L. Davis, Op. cito - Zur Bakteriologie des weichen Schankers. Jahresb, Paih=Mikro-orti., 14, 1898.

10. LENGLET, M. - Note SUl' le bacille de Ducrey et SUl' les milieux "humanísés". Ann. Derm. Syph., 2: 209-230, 1901.

11. LIPINSKI, V{. - Recherches bíologíques et expértmentales SUl' le Streptobacille de Ducrey. Compt. rendo Soe. Biol., 93: 657-661, 1925.

12. MORISON - Apud A. Ducrey, Op. cito - Ueber das Vorkommen von Bakterien

bei Syphilis. Wiener medo Woehensehrijt, n. 3, 1883; reterírt. I.d. Vierteljahressehrijt f. Dermat, unâ. S., 1883, p. 402.

13. NICOLLE, C. - Isolement, culture et conservatíon dans les laboratoíres du streptobacille du chancre mou. Comp. rendo Soc. Biol., 88: 871-873, 1923.

14. NICOLLE C. & P. DURAND- Nouvelles recherches sur le chancre mou. Son traitement par Ies inoculations íntraveíneuses du vaccín antístreptobacillaíre. Arch. Inst. Pasteur Tunis, 13: 243-272, 1924.

15. PETERSEN,W. - Ueber Bacillen befunde beím Ulcus molles. Zentralb. Bakter., 13: 743-748, 1893.

16. REENSTIERNA,J. - Reeherches sur le bacille de Ducrey. Arch. Inst. Pasteur Tunis, 12: 273-312, 1923.

17. RICORD, Ph. - Traité pratique des maladíes vénériennes ou recherches critiques et expérírnentales sur l'ínoculatíon applíquée à l'étude de ees maladíes. Librairie des Seiences Médlcales, Paris, 1838.

18. SIMON, M. L. G. - Présenee du bacílle de Duerey dans 1e pus de bubons ehanerelleux. Compt. rendo Soco Biol., 54: 547-548, 1902

19. TOMASCZEWSKI,E. - Bakteriologische Untersuehungen über den Erreger des Uleus molle. Zeitschr. Hyg., 42: 327-340, 1903.

20. UNNA, P. G. - Der Streptobacillus des weíchen Sehankers. JllIonatsh. prakt, Derm., 14: 485-490, 1892.

21. UNNA, P. G. - Die verschiedenen Phasen des Streptobacillus ulcerís mollis. JllIonat. prakt: Derm., 21: 61-81, 1895.

Creative Commons License
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Copyright (c) 1960 Luis Salles Gomes

Downloads

Não há dados estatísticos.