Resumo
O presente trabalho teve como objetivo otimizar ensaios
sorológicos para serem utilizados na pesquisa de anticorpos
dirigidos ao Herpesvírus humano tipo 8 (HHV-8) e com eles
explorar grupos de risco para adquirir, transmitir e desenvolver
doença relacionada à esta infecção, como o sarcoma de Kaposi
(SK). Tomando como base a literatura disponível, as condições
do laboratório e a experiência profissional acumulada na Seção
de Imunologia do Instituto Adolfo Lutz de São Paulo, foram
selecionados e utilizados os ensaios de imunofluorescência
indireta (IFI) e Western blot (WB) para a pesquisa de
anticorpos dirigidos a antígenos (Ag) de fase latente (LANA)
e lítica da infecção por HHV-8. Para a padronização dos testes
sorológicos foram utilizadas amostras de soro de 44 pacientes
com SK e 21 controles sadios do Laboratório, e para o cálculo
de prevalência de infecção HHV-8 em diferentes populações
de São Paulo, soros de 3 grupos de indivíduos: • 477 pacientes
infectados pelo HIV/AIDS sem SK; • 683 pacientes
institucionalizados com deficiência mental e/ou física; • 736
profissionais da área da saúde, sadios. Foram empregados na
preparação das lâminas de IFI e nas tiras de WB
respectivamente, as células BCBL-1 latentemente infectadas
pelo HHV-8 ou estimuladas com forbol éster e o antígeno viral
bruto obtido de sobrenadante de lisado das mesmas células.
Os resultados obtidos na padronização da IFI-LANA
mostraram baixa especificidade do ensaio devendo ser
acompanhado pelo teste confirmatório de WB-LANA. Por
outro lado, a IFI-Lítico se mostrou altamente sensível e
específica, prescindindo do teste confirmatório de WB-Lítico.
Este último, devido à complexidade de componentes
antigênicos aliado aos diferentes perfis de reatividade de
anticorpos encontrados em soros controle positivo e negativo,
não se mostrou útil para ser empregado no presente trabalho.
Levando em consideração os resultados obtidos na IFI-LANA
confirmados pelo WB-LANA e na IFI-Lítico, foi possível
determinar a prevalência de infecção HHV-8 no grupo de
pacientes infectados pelo HIV/AIDS sem SK que foi de 19,3%,
sendo detectados 4,8% de soros positivos para Ag LANA e
17% para Ag Lítico. Neste grupo de pacientes, houve
associação estatisticamente significante entre sorologia HHV-
8 positiva, sexo masculino e prática homossexual. Baixas
prevalências de anticorpos foram detectadas nos pacientes
institucionalizados com deficiência mental e/ou física (1,6%) e
nos profissionais da área da saúde (1,1%). Anticorpos dirigidos
a Ag LANA foram encontrados em 0,6% e 0,95% dos casos, e
para Ag Líticos em 1,0% e 0,3% dos casos, respectivamente.
Os resultados obtidos mostram que São Paulo não é região
endêmica desta infecção viral e que pacientes
institucionalizados e profissionais da área da saúde não são
grupos de alto risco para adquirir e transmitir o HHV-8;
nenhum caso de SK foi relatado neste grupo de indivíduos na
ocasião da coleta das amostras de soro. Quanto ao grupo de
pacientes infectados pelo HIV/AIDS sem SK, embora 19,3%
deles tenham resultado sorologia HHV-8 positiva sendo a
maioria para Ag de fase lítica de replicação viral, apenas 2%
desenvolveram SK em estudo longitudinal de 5 anos. A
explicação encontrada para o baixo número de casos de SK
nesta população de indivíduos foi a introdução em 1994, de
terapia anti-retroviral em São Paulo, que mudou o curso da
infecção HIV e das doenças à ela associadas. Enfim, foi
possível implantar ensaios sorológicos de pesquisa de
anticorpos específicos, que juntos, apresentam alta
sensibilidade e especificidade e que podem ser empregados
em levantamentos epidemiológicos e no diagnóstico de
infecção HHV-8.
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