Concordância diagnóstica dos exames citopatológicos revisados no Instituto Adolfo Lutz durante o monitoramento externo de qualidade do estado de São Paulo

Abstract

O exame citopatológico consiste na avaliação de características citomorfológicas de células esfoliadas do colo uterino, a fim de identificar lesões precursoras desta região. É uma análise subjetiva e medidas de controle de qualidade interno e externo auxiliam o monitoramento do desempenho dos laboratórios. No estado de São Paulo, o Instituto Adolfo Lutz (IAL) é um dos laboratórios responsáveis pelo monitoramento externo de qualidade dos laboratórios prestadores de serviço ao Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho dos laboratórios a partir dos exames monitorados pelo IAL, entre 2021 e 2022. Através do banco de dados do SUS, foram selecionados para revisão cerca de 10% dos exames citopatológicos da rotina de 21 laboratórios, incluindo todos os exames com anormalidade citológica, todos os insatisfatórios e aproximadamente 5% dos negativos. Todos os diagnósticos discordantes após a revisão foram definidos em consenso com o laboratório de origem e a concordância diagnóstica foi avaliada pelo índice Kappa. Do total de exames selecionados, 589 (5,6%) não atenderam os parâmetros de qualidade definidos pelo Ministério da Saúde e foram rejeitados na avaliação pré-analítica. Dos 9.889 exames revisados, 470 (4,75%) foram considerados falso-positivos; 135 (1,37%) reclassificados como insatisfatório; 40 (0,40%) falso-negativos, com necessidade de encaminhamento imediato para colposcopia; e 147 (1,49%) falso negativos, com conduta correspondendo à repetição da citologia em seis meses. Em 112 (1,13%) a anormalidade citológica foi reclassificada com grau mais grave, implicando em alteração de conduta com encaminhamento imediato à colposcopia. O índice Kappa foi 0,92 entre os diagnósticos de revisão e do laboratório de origem. Concluímos que apesar do desempenho excelente do índice Kappa, em parte dos casos houve comprometimento da conduta clínica da mulher. Medidas de educação continuada e discussão dos casos discordantes entre os profissionais são ferramentas importantes para melhoria da qualidade do exame citopatológico.