Caracterização de Enterobacterales resistentes aos carbapenêmicos (CRE) coprodutores de KPC e NDM durante a pandemia de COVID-19

Abstract

Durante a pandemia de COVID-19, observou-se um aumento expressivo de surtos de microrganismos resistentes e coprodutores de mecanismos envolvidos na resistência bacteriana. Dentre estes microrganismos, destacam-se os pertencentes à Ordem Enterobacterales produtores de carbapenemases (CRE), principalmente pela capacidade de se disseminarem com facilidade através de elementos genéticos móveis. O objetivo deste trabalho foi caracterizar os isolados coprodutores de diferentes carbapenemases no período de fevereiro de 2021 a junho de 2022. Aproximadamente 900 isolados foram encaminhados ao Polo Regional de Resistência Microbiana no Centro de Laboratório Regional (CLR) de Marília, provenientes de municípios das regiões centro-oeste, noroeste e nordeste do estado de São Paulo, Brasil. Todos os isolados foram submetidos a provas bioquímicas para identificação bacteriana, testes de sensibilidade aos antimicrobianos por disco-difusão e microdiluição em caldo (para polimixina B), segundo os critérios do BrCAST. Isolados resistentes aos carbapenêmicos foram submetidos a PCR para a detecção de genes responsáveis pela produção de carbapenemases bla_KPC, bla_NDM, bla_OXA-48, bla_IMP, bla_VIM e bla_SPM. Dentre esses isolados, seis (quatro do Complexo K. pneumoniae, uma Klebsiella aerogenes e uma E. coli), provenientes de três municípios, coproduziram KPC e NDM, confirmado posteriromente por PCR simplex, e foram submetidos ao ERIC-PCR para verificar a clonalidade. Dos quatro isolados do Complexo K. pneumoniae, dois apresentaram resistência a todos os antimicrobianos testados; exceto polimixina B, um apresentou sensibilidade apenas à amicacina e polimixina B e outro isolado foi sensível à amicacina, gentamicina e polimixina B. A tipagem epidemiológica molecular por ERIC-PCR evidenciou quatro perfis diferentes do Complexo K. pneumoniae. A detecção de Enterobacterales coprodutores de KPC e NDM durante a pandemia de COVID-19 aumenta a preocupação com a disseminação intra e inter-hospitalar reduzindo a chance de sucesso terapêutico, principalmente o tratamento com ceftazidima/avibactam indicado para os produtores de KPC. A não clonalidade dos isolados sugere que a transmissão tenha sido por elementos genéticos móveis, a serem investigados.