Distinção de espécies de Paracoccidioides spp por ensaio sorológico: é possível?

Abstract

A paracoccidioidomicose (PCM) é micose sistêmica causada por fungos do gênero Paracoccidioides. O diagnóstico definitivo baseia-se na observação direta de leveduras com múltiplos brotamentos em fluídos corporais ou tecidos, bem como pela cultura do patógeno, seguido da reversão de micélio para levedura. Entretanto, os métodos clássicos de diagnóstico baseados nas características fenotípicas e na cultura do patógeno são demorados e pouco sensíveis; e a avaliação histopatológica pode ser inviável para alguns pacientes, pelo risco durante a coleta da amostra, ou ainda pela inacessibilidade ao local da lesão. Desta forma, o diagnóstico sorológico é uma importante ferramenta tanto de diagnóstico quanto de seguimento da doença. Este trabalho pretende comprovar a impossibilidade de diferenciar por provas sorológicas a infecção causada por P. brasiliensis daquelas causadas por outras espécies de Paracoccidioides spp. Avaliou-se 20 amostras de soro de pacientes com confirmação sorológica para PCM. Os antígenos foram obtidos a partir de isolados de P. brasiliensis (S1), P. restrepiensis (PS3), P. venezuelenis (PS4) e P. lutzii, cultivados a 37 °C, em ágar Fava-Netto. A pesquisa de anticorpos circulantes foi realizada por imunodifusão dupla em gel de agarose. Por imunodifusão dupla, observou-se que todas as amostras avaliadas apresentaram reatividade cruzada “gênero específica” frente aos antígenos de P. brasiliensis, P. restrepiensis, P. venezuelenis e P. lutzii. A reatividade “gênero específica” entre as espécies de Paracoccidioides spp. foi comprovada por immunoblotting, já que diversas amostras de soro reconheceram tanto os marcadores sorológicos da infecção por P. brasiliensis (gp43 e gp70), assim como diversas frações de P. lutzii, com destaque para a fração de 60 kDa. Por SDS-PAGE, confirmou-se o compartilhamento de componentes antigênicos entre as espécies justificando, assim, a ocorrência de reatividade cruzada “gênero específica”. Conclui-se, portanto, a impossibilidade de discriminar, sorologicamente PCM causada por P. brasiliensis daquelas causadas por outras espécies do patógeno.