Levantamento de casos de meningites não esclarecidas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), de 2019 a 2023, e análise sobre a neuroangiostrongilíase no Brasil

Resumen

Meningites são doenças de notificação compulsória de grande relevância para a saúde pública, tendo bactérias, vírus e fungos como agentes etiológicos mais comuns. Entretanto, alguns parasitos podem ser implicados, como o metaestrongilídeo Angiostrongylus cantonensis. Transmitido pela ingestão de moluscos e tendo roedores como hospedeiros definitivos, o nematódeo causa a doença associada à meningite eosinofílica, chamada neuroangiostrongilíase. Esta enfermidade foi relatada em quase todos os continentes, contudo, por ser pouco conhecida e de difícil diagnóstico, não existem dados sobre sua real prevalência, inclusive no Brasil. A fim de levantar indícios sobre o problema em âmbito nacional, considerando a possibilidade de neuroangiostrongilíase, este estudo buscou identificar casos de meningites não esclarecidas (MNE) nos últimos cinco anos. Para tanto, foram extraídos e analisados dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), utilizando como parâmetros: “meningites”, “Unidade Federativa (UF) de residência”, “etiologias” e “evolução”, entre 2019 e 2023. Foram registrados 59.787 casos de meningite no período, com 5.953 (9,96%) óbitos. Ainda, 10.902 (18,23%) eram MNE, com 1.100 óbitos, correspondendo a 18,48% dos óbitos totais e 10,09% dos casos de MNE. Além disso, todas as UFs apresentaram casos de meningites, sendo SP, PR, RS, RJ e MG as principais, somando 41.301 (69,08% do total). No entanto, os maiores números de MNE foram registrados em SP, RS, MG, PE e BA, com 6.355 (58,29%). Esses dois grupos de estados registraram 3.691 (8,94%) e 519 (8,17%) óbitos por meningite e MNE respectivamente. Os dados indicam um número expressivo de casos de meningite sem diagnóstico etiológico definido em comparação com o total de casos. Desta forma, considerando a presença do parasito no Brasil e a ampla distribuição de seus hospedeiros, é importante que os profissionais de saúde incluam a neuroangiostrongilíase como hipótese diagnóstica diferencial das MNE, especialmente nos casos de meningite eosinofílica.