Incremento da resistência antimicrobiana em isolados clínicos de Acinetobacter baumannii devido à emergência de um novo clone nos hospitais de São Paulo

Resumen

A disseminação nosocomial de Acinetobacter baumannii multirresistente está relacionada a algumas linhagens de circulação global, denominadas clones internacionais (ICs). O IC2 destaca-se por estar envolvido mundialmente em surtos de infecção hospitalar de difícil tratamento. Até 2020, apenas raros casos deste clone foram reportados na América do Sul. Com a pandemia de COVID-19, observou-se aumento da incidência de A. baumannii resistentes aos carbapenêmicos no cenário mundial, assim como o IC2 passou a ser frequentemente detectado em hospitais de diferentes estados do Brasil. O objetivo deste estudo é descrever o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos de isolados de A. baumannii IC2 provenientes de diferentes hospitais do estado de São Paulo. Os isolados foram recebidos no Centro de Bacteriologia do Instituto Adolfo Lutz entre 2020 e 2021, e identificados por MALDI-TOF. Foi realizado PCR convencional para detecção do IC2 e das oxacilinases, e PFGE para análise do perfil clonal. Isolados representativos foram selecionados para testes fenotípicos de sensibilidade aos antimicrobianos. Ao todo detectou-se 220 isolados de A. baumannii do IC2, todos OXA-51 e OXA-23 positivos, e com alta similaridade no PFGE (> 87%). Oitenta e nove isolados representativos de 16 hospitais foram selecionados para testes de sensibilidade, sendo todos resistentes in vitro aos carbapenêmicos, fluoroquinolonas e ampicilina-sulbactam. Observou-se taxa superior a 95% de resistência aos aminoglicosídeos e tigeciclina, enquanto a resistência à minociclina foi de 70%. A polimixina B foi o único antimicrobiano que apresentou atividade in vitro contra todos os isolados analisados com MIC50 e MIC90 de 0,5 mg/L e 1,0 mg/L, respectivamente, seguida do cefiderocol com taxa de sensibilidade de 81%. Neste estudo verificou-se a ocorrência de A. baumannii IC2 multirresistente, em vários hospitais do estado de São Paulo. As taxas de resistência a aminoglicosídeos e minociclina foram pronunciadas nestes isolados, indicando uma mudança na epidemiologia até então reportada no país.