Resumen
O Enterovírus D68 (EV-D68) ganhou atenção desde 2014 devido à sua associação com doenças respiratórias graves e complicações neurológicas em crianças. A movimentação global de populações apresenta desafios para a saúde pública, incluindo a disseminação de doenças infecciosas. O Afeganistão, uma região endêmica para o poliovírus, exige vigilância rigorosa da poliomielite para refugiados/repatriados que chegam ao Brasil. Para mitigar o risco, foi implantado em 2022 no estado de São Paulo o monitoramento de imigrantes de áreas de circulação do poliovírus selvagem em menores de 21 anos. Este estudo descreve a detecção do EV-D68 em amostras fecais de refugiados afegãos durante o programa de vigilância da poliomielite. Em 2023, foi coletada uma amostra de fezes de cada um dos 529 refugiados com menos de 21 anos, com a chegada no estado de São Paulo. As amostras foram processadas inicialmente no Laboratório da FIOCRUZ, referência nacional para poliovírus, utilizando isolamento viral em cultura de células. Amostras negativas para poliovírus ou identificadas como enterovírus não-pólio foram processadas no Instituto Adolfo Lutz para análise adicional. O ensaio de RT-qPCR foi utilizado para rastrear especificamente o EV-D68, seguido de sequenciamento genômico da região parcial da VP1 nas amostras positivas para confirmação e definição do clado. Das 529 amostras fecais, o EV-D68 foi detectado em duas por RT qPCR. Uma amostra sequenciada foi confirmada como EV-D68 e classificada como subclado B3 utilizando a ferramenta Enterovirus Genotyping Tool (disponível em https://www.genomedetective.com/app/typingtool/etv/); a outra amostra positiva não pôde ser sequenciada. Esta é a primeira descrição de EV-D68 no Brasil em amostras fecais entre refugiados, sugerindo circulação silenciosa do vírus na população mais ampla. O estudo destaca a necessidade de sistemas de vigilância robustos que vão além do poliovírus, enfatizando a importância do monitoramento contínuo em populações altamente móveis para prevenir a disseminação de enterovírus e potenciais surtos.
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