Tabagismo: uma questão de saúde pública
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Cómo citar

1.
Jacintho da Silva L. Tabagismo: uma questão de saúde pública. Bepa [Internet]. 31 de agosto de 2004 [citado 25 de noviembre de 2024];1(8):2. Disponible en: https://periodicos.saude.sp.gov.br/BEPA182/article/view/38965

Resumen

Com esta edição, o Boletim Epidemiológico Paulista alerta para um problema que,  embora muitos não queiram reconhecer, é uma das mais sérias questões de  saúde pública do momento atual e, infelizmente, dos próximos anos. Ainda que o  consumo de tabaco seja um costume milenar, foi com a popularização do cigarro  de papel, industrializado, de baixo custo, que os efeitos nocivos do tabagismo se  constituíram em problema de saúde pública, na verdade, uma epidemia que se  inicia nas primeiras décadas do século XX e continua até hoje.  Segundo a Organização Mundial da Saúde, o tabaco é a segunda maior causa  mundial de óbitos, sendo responsável pela morte de um em cada dez adultos.  Isso significa cerca de cinco milhões de óbitos anuais em todo o mundo. Cerca de  metade dos fumantes existentes hoje — algo em torno de 650 milhões de  pessoas — , se continuar fumando, morrerá por doença determinada ou agravada  pelo tabaco.  A epidemia de tabagismo teve e tem conseqüências sérias. Apesar de o  adenocarcinoma pulmonar ter recebido mais destaque, por apresentar o maior  risco relativo, é a doença coronariana que apresenta o maior risco atribuível na  população. Outras conseqüências importantes do tabagismo, mas muitas vezes  esquecidas, são as doenças arteriais, o enfisema pulmonar e o risco aumentado  de diversas neoplasias, como a de bexiga, por exemplo.  Paradoxalmente, parece existir certa cumplicidade da sociedade e mesmo dos  profissionais de saúde em relação a esta epidemia. Uma epidemia de dengue ou  de doença meningocócica jamais ocorreria por muito tempo sem uma reação por  parte da opinião pública e dos serviços de saúde. Basta apenas verificar a  quantidade de notícias na imprensa, muitas delas alarmantes, sobre a ocorrência  de casos de doença meningocócica, mesmo quando não existe uma epidemia. No  entanto, a sociedade vem tolerando uma epidemia que já dura quase um século,  que determinou e determina um número alarmante de óbitos e de incapacidades,  com um custo elevadíssimo para o sistema de saúde, além do custo indireto,  também elevado, para a sociedade.  Em junho deste ano, foi publicada a avaliação de 50 anos de seguimento de uma  coorte de médicos ingleses, constituída em 1951, para avaliar as conseqüências  do tabagismo. No artigo, que merece ser lido na íntegra, as conclusões foram de  que as conseqüências do tabagismo são mais graves do que se aceitava até  então.  Há alguns aspectos do tabagismo que continuam pouco lembrados. Há dez anos,  um estudo caso-controle sobre risco de doença meningocócica em criança em  Bristol, na Inglaterra, já mostrava que um odds-ratio para ocorrência de doença  meningocócica de 7,5 (intervalo de confiança de 95% (IC) de 1,46 a 38,66) para  criança expostas ao fumo em casa, fumantes passivos, portanto. O risco  aumentava com a quantidade de cigarros fumados pelos pais ou outras pessoas  do mesmo domicílio, sugerindo uma relação dose-dependente.  Este não foi o único estudo a encontrar uma relação de risco entre fumo e  ocorrência de doença meningocócica. Outro estudo caso-controle, este no estado  norte-americano do Oregon, mostrou um odds-ratio para ocorrência de doença  meningocócica de 3,8 (intervalo de confiança de 95% (IC) de 1,6 a 8,9) para  crianças e adolescentes cuja mãe era fumante. Também em adultos, o odds-ratio  para ocorrência de doença meningocócica em fumantes passivos e ativos era de  2,5 (intervalo de confiança de 95% (IC) 0,9 a 6,9) e 2,4 (intervalo de confiança de  95% (IC) 0,9 a 6,6), respectivamente, também com uma correlação doseresposta.  Neste estudo, aproximadamente 37% dos 129 casos poderiam ser  atribuídos ao fumo.  Mais recentemente, um estudo caso-controle no País de Gales, para avaliar o  risco de estado de portador para a Neisseria meningitidis, mostrou também uma  significativa associação com o fumo, tanto fumantes passivos como ativos.  O estudo de Levèfre e colaboradores [veja adiante Criança: fumante passivo sem  opção, apresentado nesta edição do Bepa], mostra bem que o tabagismo, além  de um sério problema de saúde pública, é complexo o bastante para que sua  redução não seja um processo simples e pontual. Será necessário um esforço  cooperativo de toda a sociedade, mas cabe aos serviços de saúde liderar esse  processo. Aí reside uma contradição preocupante. Ainda que as evidências das  conseqüências do tabagismo sejam avassaladoras e indiscutíveis, os serviços de  saúde são tímidos na implementação de ações para reduzir o uso do tabaco. Não  é mais possível tolerar essa situação. A redução, e eventual eliminação, do  tabagismo deve ser item prioritário na agenda da saúde pública, sob pena de  convivermos na mais descarada hipocrisia. 

Luiz Jacintho da Silva

   

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Citas

- Doll R, Peto R, Boreham J, Sutherland I. Mortality in relation to smoking: 50 years observations on male British doctors. BMJ doi:10.1136/bmj.38142.554479.AE (published 22 June 2004)

- Stanwell-Smith RE, Stuart JM, Hughes AO et al. Smoking, the environment and meningococcal disease: a case control study. Epidemiol Infect. 1994; 112(2):315-28.

- Fischer M, Hedberg K, Cardosi P et al. Tobacco smoke as a risk factor for meningococcal disease. Pediatr Infect Dis J. 1997; 16(10):979-83.

- Fitzpatrick PE, Salmon RL, Hunter PR et al. Risk factors for carriage of Neisseria meningitidis during an outbreak in Wales. Emerging Infectious Diseases 2000; 6:65-9.

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Derechos de autor 2004 Luiz Jacintho da Silva

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