Resumo
S. dysenteriae, ao contrário do estabelecido no manual de Bergey, não fermenta rafinose e adonita. Estudo comparativo de amostras de S. dysenteriae e de germes manita-indol-negativos procedentes de casos clínicos de disenteria, antigênicamente homogêneos e muito semelhantes àquela espécie morfológica, tintorial, cultural e bioquimicamente mas distintos em provas sorológicas e absolutamente idênticos a padrão tipo Q771 recebido de Connecticut State Dept. of Health revela a ocorrência, em São Paulo, de Shigella sp, Sachs Q771. É observação valiosa considerando-se que, se julgado este tipo, como muitas vezes até há pouco o foi, em diversos países inclusive o nosso, S. dysenteriae inaglutinável porque como esta espécie se comporta nas provas bioquímicas rotineiras de identificação de Shigella, leva ao emprego de soro anti-Shiga, acarretando falhas e conclusões indevidas de ineficácia da soroterapia específica. "Shigella Andrada", isolada por Sosa, em Buenos-Aires, corresponde, também, ao tipo Q771 de Sachs. Fala em favor da ocorrência deste tipo no Uruguai a publicação de Hormaeche e Surraco em que se estabelece identidade entre "Shigella Andrada" e amostra por eles isolada. Sorbita e l-arabinose distinguem S. dysenteriae do tipo Q771 de Sachs, o que não o fazem caracteres morfológicos, tintoriais e culturais e rotineiras provas bioquímicas; são fermentadas, em geral tardiamente, pelo tipo Q771 e não por S. dysenteriae. Entretanto, a amostra padrão Shigella. sp. Sachs Q1167 estudada pelos autores e procedente, também, de Connecticut State Dept. o Health, é de comportamento bioquímico idêntico ao de Shigella sp. Sachs Q771 mas sorológicamente distinta, revelando, assim, a necessidade de tipagem com soros padrões. Os autores não trabalharam com os tipos QI030 e Q454; contudo, Wheeler e Stuart, cujas investigações são das mais completas e abrangem todos os tipos Sachs, concluem exigirem, também aqueles, emprego de soros padrões para diferenciação. As observações dos autores, repetidas vezes e com longos intervalos, sobre S. dysenteriae e exemplares tipo Q771 comparadas com as de Wheeler e Stuart incluídas no Quadro I desta publicação, a não ser que as contrariem investigações futuras, permitem estabelecer diferenciação, por l-arabinose, entre S. dysenteriae e os tipos indol-negativos de Sachs já que estes a fermentam e aquela espécie não. Distinção entre os tipos se fará em base sorológica. Os tipos Sachs trarão modificações nos atuais sistemas taxionômicos. Borrnan, Stuart e Wheeler (1944), em cuidadoso estudo sobre a taxonomia da família Enterobacteriacene, à qual pertence o gênero Shigella, dizem da provável necessidade de logo se designarem variedades no grupo não fermentador de manita mas ser ainda cedo para determinar o lugar de germes recentemente descritos como os de Sachs. Porém o trabalho posterior e há pouco citado de dois daqueles autores, Wheeler e Stuart, exclui do gênero Shigella alguns tipos Sachs e confirma a inclusão dos demais definindo, assim, a posição taxonômica dos mesmos. Não fermentam d-arabinose S. dysenteriae, Shigella sp, Sachs Q771 e a única amostra Shigella sp. Sachs Q1167 estudada pelos autores; provavelmente, também os tipos QI030 e Q454. É essencial que, em publicações sobre fermentação de arabinose, se mencione a variedade ótica estudada. Insistem os signatários desta comunicação, por observações próprias, na necessidade do emprego, em provas de soro-aglutinação, de culturas na fase S e soros imunes preparados com amostras S. Ao lado de muitos "Shigas inaglutináveis" registrados e que, na realidade, não são a clássica S. dysenteriae e sim tipos indol negativos de Sachs, outros certamente devem sua inaglutinabilidade ao emprego de formas R. Verificam os autores serem as formas S e R de S. dysenteriae dotadas de toxicidade, embora não hajam observado qual a de mais alto poder, e que, em igualdade de condições, amostras de Shiqella sp. Sachs Q771 quer S, quer R, não revelam toxicidade.Referências
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