Resumo
O objetivo deste estudo foi verificar se indivíduos acometidos pela hanseníase realizavam adequadamente a prática do autocuidado e possíveis fatores interferentes. Trata-se de um estudo documental, observacional e descritivo de inquérito domiciliar. A amostra abrangeu todos os onze pacientes detectados durante um ano, em um município com 120.000 habitantes no interior do estado de SP. Foram coletados os dados clínicos e cuidados prescritos dos prontuários. A entrevista e a observação das práticas de autocuidado foram realizadas no domicílio. Foi solicitado aos participantes para identificarem os problemas decorrentes da doença, demonstrarem quais, como e quando faziam o autocuidado, o qual foi classificado como: realizado adequadamente, parcialmente ou não realizado. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Nº 06/2007). Dos cinco que apresentavam grau 2 de incapacidades, três realizavam parcialmente e dois não realizavam o autocuidado. Demonstraram dificuldades em aceitar o comprometimento físico e de incorporar as práticas diárias por fatores multicausal, o mesmo aconteceu com aqueles com grau 1. A necessidade da manutenção do trabalho laboral, com exposição a traumas físicos e em período integral, pode levar a ocultação da doença, seja para si ou para a sociedade, e dificultar as ações de autocuidado, tanto pela falta de tempo quanto pela não aceitação da doença. O modelo paternalista, fragmentador e mecânico da assistência em saúde, sugere uma tendência à dependência dos serviços institucionais, desconstruindo a autonomia e a responsabilidade individual sobre seu estado de saúde, desmotivando as ações do autocuidado domiciliar.
Referências
2 Araújo MG. Hanseníase no Brasil. RevSocBras Trop. 2003;36(3):373-82.
3 Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de Prevenção de Incapacidades. 3a ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.
4 Duerksen F. Reabilitação. In: Opromolla DVA, Baccarelli R, organizadores. Prevenção de incapacidades e reabilitação em hanseníase. Bauru: Instituto Lauro de Souza Lima; 2003. p. 3-4.
5 Seshadri D, Khaitan BK, Khanna N, Sagar R. Dehabilitation in the era of elimination and rehabilitation: a study of 100 leprosy patients from a tertiary care hospital in India. Lepr Rev. 2015;86(1):62-74.
6 George JB e Colaboradores. Teorias de enfermagem: os fundamentos à prática profissional.4a ed. Porto Alegre: Artmed; 2000. 375 p.
7 Brito KKG, Soares MJGO, Costa MML, Oliveira SHS.Práticas e limitações de clientes com hanseníase no cuidar das lesões cutâneas. Rev Enferm UFPE on line. 2014:8(1):16-7.doi: 10.5205/r euol.4843-39594-1-SM.0801201403
8 Nardi SMT, Paschoal VDA, Chiaravalloti-Neto F, Zanetta DMT. Deficiências após a alta medicamentosa da hanseníase: prevalência e distribuição espacial. Rev SaúdePública. 2012;46(6):969-77.
9 Alberts CJ, Smith WCS, Meima A, Wang L, Richardus JH. Potential effect of the World Health Organization’s 2011-2015 global leprosy strategy on the prevalence of grade 2 disability: a trend analysis. Bull World Health Organ. 2011;89(7):487-95.
10 Silva AC, Ferreira RC, Ferreira MAA, Ribeiro MTF. Association between the degree of physical impairment from leprosy and dependence in activities of daily living among the elderly in a health unit in the State of Minas Gerais. RevSocBrasMed Trop. 2014;47(2):212-17.
11 Pieri FM, Ramos ACV, Crispim JA, Pitiá ACA, Rodrigues LBB, Silveira TRS, et al . Fatores associados às incapacidades em pacientes diagnosticados de hanseníase: um estudo transversal. Hansen Int. 2012;37(2):22-30.
12 Leite IF, Arruda AJCG, Vasconcelos DIB, Santana SC, Chianca KSV. A qualidade de vida de pacientes com hanseníase crônica. Rev Enferm UFPE on line. 2015;9(6):8165-71.doi: 10.5205/r euol.7585-66362-1-ED.0906201503
13 Deepak S, Hansine PE, Braccini C. Self-care groups of leprosy-affected people in Mozambique. Lepr Rev. 2013;84(4):283-91.
14 Miranzi SSC, Pereira LHM, Nunes AA. Perfil epidemiológico da hanseníase em um município brasileiro, no período de 2000 a 2006. RevSocBrasMed Trop. 2010;43(1):62-7.
15 Souza IA, Ayres JA, Meneguin S, Spagnolo RS. Autocuidado na percepção de pessoas com hanseníase sob a ótica da complexidade. Esc Anna Nery. 2014;18(3):510-4.
16 Teasdale K, De Wildt G, Das Pranab K, Virmond MC, Galan NG, Prado RB, et al. The patient perspective of the diagnostic process for leprosy in Brazil. An exploratory study. Lepr Rev. 2015;86(1):21-36.
17 Galan NGA, Marciano LHSC, Fonseca MS, Marques T, Prado RBR, Cury M Filho, et al. Ambulatório de autocuidado em Hanseníase: descrição de resultados. Hansen Int. 2011;36(Supl 1):223.
18 Batista TVG, Vieira CSCA, Paula MAB. A imagem corporal nas ações educativas em autocuidado para pessoas que tiveram hanseníase. Physis. 2014;24(1):89-104.
19 Nardi SM, Ikehara E, Pedro HS, Paschoal VD. Characterization of the profession/occupation of individuals affected by leprosy and the relationship with limitations in professional activities. Indian J Lepr. 2012;84(1):1-8.
20 Baialardi KS. O estigma da hanseníase: relato de experiência em grupo com pessoas portadoras. Hansen Int. 2007;32(1):27-36.
21 Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 1988.
22 Silveira MGB, Coelho AR, Rodrigues SM, Soares MM, Camillo GN. Portador de hanseníase: impacto psicológico do diagnóstico. Psicol Soc. 2014;26(2):517-27.
23 Sermrittirong S, Van Brakel WH. Stigma in leprosy: concepts, causes and determinants. Lepr Rev. 2014;85(1):36-47.
24 Beluci ML, Borgato MH, Galan NGA. Avaliação de cursos multiprofissionais em hanseníase. Hansen Int. 2012;37(2):47-53.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.