Hanseníase virchowiana "pruriginosa" em idoso: a importância do exame dermatoneurológico e suspeição diagnóstica
DOI:
https://doi.org/10.47878/hi.2010.v35.35124Resumo
Introdução: A hanseníase virchowiana (MHV) polar é forma clínica de diagnóstico mais difícil nas fases iniciais, já que o comprometimento neurológico é tardio e não há presença de placas. Relata-se um caso com sintoma atípico em idoso: o prurido. Relato de caso: Homem, 81 anos, branco, procedente de Itirapina - SP, encaminhado ao serviço de referência com hipótese diagnóstica de “alergia”, relatava que há dois anos notou a presença de pápulas, placas e nódulos em corpo, associado a prurido intenso generalizado, mais pronunciado nas lesões. Ao exame físico, havia livedo reticular difuso que poupava a área do polígono de Michaelis, acrocianose, madarose, pápulas, placas e nódulos eritêmato-violáceos em abdome, região perimamilar, membros inferiores e região glútea. Ao exame neurológico, notou-se espessamento de nervos ulnares, radiais, tibiais e fibular esquerdo. Não apresentava garra ulnar e o teste de sensibilidade com monofilamentos não demonstrou perda da sensibilidade tátil nas mãos ou protetora nos pés. A baciloscopia de pontos índices variou entre de 3 a 5+, com índice morfológico de 3%. O teste de Mitsuda foi negativo, e a biópsia de uma das lesões evidenciou MHV. Discussão: A MHV polar constitui-se na forma mais bacilífera e de maior dificuldade diagnóstica, quando não se faz a suspeição. A virtual ausência de imunidade permite que o bacilo prolifere na célula nervosa por quase uma década, em média, sem que haja sintomas característicos (nódulos, “manchas”, neurite ou deformidades). Embora seja sintoma atípico, a xerose cutâneo-mucosa pode causar prurido, e o comprometimento neurovascular leva ao livedo reticular e acrocianose, sinais que devem alertar o clínico para a suspeita diagnóstica, principalmente se há presença de áreas poupadas da infiltração/livedo, como axilas, couro cabeludo e polígono de Michaelis, muito sugestivas de MHV. O exame neurológico sempre demonstra espessamento neural difuso, e a baciloscopia é sempre ricamente positiva.
Referências
2 World Health Organization (WHO). Global leprosy situation, 2006. Wkly Epidemiol Rec. 2006;81:309-1
3 Ridley DS, Jopling WH. Classification of leprosy according to immunity: a five-group system. Int J Lepr Other Mycobact Dis. 1966; 34:255-73.
4 Mendonça VA, Costa RD, Melo GEBA, Antunes C M, Teixeira AL. Imunologia da hanseníase. An. Bras. Dermatol. 2008; 83(4): 343-350
5 Oliveira MLW, Penna GO, Talhari S. Role of dermatologists in leprosy elimination and post-elimination era: the Brazilian contribution. Lepr Rev. 2007; 78:17-21.
6 Opromolla DVA. Clínica da hanseníase. Hansenol Int. 2001; 26:1-4.
7 Foss NT: Hanseníase: aspectos clínicos, imunológicos e terapêuticos. An Bras Dermatol.1999;4(2): 113-9.
8 Baptista. La Ginecomastia na Lepra. Rev Brasil Leprol. 1937, 5: 53-66.
9 Maria do Perpétuo Socorro Corrêa Amador.Soroprevalência para hanseníase em áreas endêmicas do estado do Pará [dissertação]. Belém, Universidade Federal do Pará; 2004.
10 Morley Je et al: Hormones changes associated with testicular atrophy and gynaecomastia in patients with leprosy. Clin Endocrinol. 1977, 6: 299-303.
11 Job Ck: Gynecomastia and leprous orchitis. A preliminary study. Int J Lepr. 1961, 29: 423-441.
12 Schettini APM, Eiras JC, Cunha MGS, Tubilla LHM, Sardinha JCG. Hanseníase histoide de localizacao restrita. An. Brás. Dermatol. 2008; 83(5): 470-2
13 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria conjunta n 125, de 26 de março de 2009. Define ações de controle da hanseníase. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 27 de mar. de 2009.
14 P A Opromolla; I Dalben;M Cardim. Análise geoestatística de casos de hanseníase no Estado de São Paulo, 1991-2002. Rev Saúde Pública 2006; 40(5): 907-13.
15 Martin Fir et al. Leprous endocrinopathy. Lancet 1968, 2: 1320-1321.
16 Ree Gh et al. Hormonal changes in human leprosy. Lepr Rev. 1981, 52: 121-126.
17 Arruda M S P; Nogeuira M E S; Vilani F R; Costa H C; Arruda, O S. Avaliaçäo imunológica em pacientes idosos portadores de hanseníase. Salusvita; 7(1): 122-8, 1988.
18 Skacel M, Antunes SL, Rodrigues MM, Nery JA, Valentim VD, Morais RP, Sarno EN. The diagnosis of leprosy among patients with symptoms of peripheral neuropathy without cutaneous lesions: a follow-up study. Arq Neuropsiquiatr. 2000 Sep;58(3B):800-7.
19 Oliveira ML, Mendes CM, Tardin RT, Cunha MD, Arruda A. Social representation of Hansen’s disease thirty years after the term “leprosy” was replaced in Brazil. Hist Cienc Saude Manguinhos. 2003; 10(Suppl 1):41-8.
20 De Rojas V, Hernández O, Gil R. Some factors influencing delay in leprosy diagnosis. Bull Pan Am Health Organ. 1994 Jun; 28(2):156-6.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Este periódico está licenciado sob uma Creative Commons Attribution 4.0 International License.