Resumo
Introdução: A hanseníase virchowiana (MHV) polar é forma clínica de diagnóstico mais difícil nas fases iniciais, já que o comprometimento neurológico é tardio e não há presença de placas. Relata-se um caso com sintoma atípico em idoso: o prurido. Relato de caso: Homem, 81 anos, branco, procedente de Itirapina - SP, encaminhado ao serviço de referência com hipótese diagnóstica de “alergia”, relatava que há dois anos notou a presença de pápulas, placas e nódulos em corpo, associado a prurido intenso generalizado, mais pronunciado nas lesões. Ao exame físico, havia livedo reticular difuso que poupava a área do polígono de Michaelis, acrocianose, madarose, pápulas, placas e nódulos eritêmato-violáceos em abdome, região perimamilar, membros inferiores e região glútea. Ao exame neurológico, notou-se espessamento de nervos ulnares, radiais, tibiais e fibular esquerdo. Não apresentava garra ulnar e o teste de sensibilidade com monofilamentos não demonstrou perda da sensibilidade tátil nas mãos ou protetora nos pés. A baciloscopia de pontos índices variou entre de 3 a 5+, com índice morfológico de 3%. O teste de Mitsuda foi negativo, e a biópsia de uma das lesões evidenciou MHV. Discussão: A MHV polar constitui-se na forma mais bacilífera e de maior dificuldade diagnóstica, quando não se faz a suspeição. A virtual ausência de imunidade permite que o bacilo prolifere na célula nervosa por quase uma década, em média, sem que haja sintomas característicos (nódulos, “manchas”, neurite ou deformidades). Embora seja sintoma atípico, a xerose cutâneo-mucosa pode causar prurido, e o comprometimento neurovascular leva ao livedo reticular e acrocianose, sinais que devem alertar o clínico para a suspeita diagnóstica, principalmente se há presença de áreas poupadas da infiltração/livedo, como axilas, couro cabeludo e polígono de Michaelis, muito sugestivas de MHV. O exame neurológico sempre demonstra espessamento neural difuso, e a baciloscopia é sempre ricamente positiva.
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