Hanseníase virchowiana "pruriginosa" em idoso: a importância do exame dermatoneurológico e suspeição diagnóstica

Autores

  • Leandra Oliveira Teixeira Médico residente do Instituto Lauro de Souza Lima.
  • Carlos Maximiliano Gaspar Carvalho Heil Silva Médico residente do Instituto Lauro de Souza Lima.
  • Ana Luiza Grizzo Peres Martins Médico residente do Instituto Lauro de Souza Lima.
  • Lívia Ariane Lopes Barroso Médico residente do Instituto Lauro de Souza Lima.
  • Jaison Antonio Barreto Médico dermatoligista do Instituto Lauro de Souza Lima.
  • Cleverson Teixeira Soares Médico patologista do Instituto Lauro de Souza Lima.

DOI:

https://doi.org/10.47878/hi.2010.v35.35124

Resumo

Introdução: A hanseníase virchowiana (MHV) polar é forma clínica de diagnóstico mais difícil nas fases iniciais, já que o comprometimento neurológico é tardio e não há presença de placas. Relata-se um caso com sintoma atípico em idoso: o prurido. Relato de caso: Homem, 81 anos, branco, procedente de Itirapina - SP, encaminhado ao serviço de referência com hipótese diagnóstica de “alergia”, relatava que há dois anos notou a presença de pápulas, placas e nódulos em corpo, associado a prurido intenso generalizado, mais pronunciado nas lesões. Ao exame físico, havia livedo reticular difuso que poupava a área do polígono de Michaelis, acrocianose, madarose, pápulas, placas e nódulos eritêmato-violáceos em abdome, região perimamilar, membros inferiores e região glútea. Ao exame neurológico, notou-se espessamento de nervos ulnares, radiais, tibiais e fibular esquerdo. Não apresentava garra ulnar e o teste de sensibilidade com monofilamentos não demonstrou perda da sensibilidade tátil nas mãos ou protetora nos pés. A baciloscopia de pontos índices variou entre de 3 a 5+, com índice morfológico de 3%. O teste de Mitsuda foi negativo, e a biópsia de uma das lesões evidenciou MHV. Discussão: A MHV polar constitui-se na forma mais bacilífera e de maior dificuldade diagnóstica, quando não se faz a suspeição. A virtual ausência de imunidade permite que o bacilo prolifere na célula nervosa por quase uma década, em média, sem que haja sintomas característicos (nódulos, “manchas”, neurite ou deformidades). Embora seja sintoma atípico, a xerose cutâneo-mucosa pode causar prurido, e o comprometimento neurovascular leva ao livedo reticular e acrocianose, sinais que devem alertar o clínico para a suspeita diagnóstica, principalmente se há presença de áreas poupadas da infiltração/livedo, como axilas, couro cabeludo e polígono de Michaelis, muito sugestivas de MHV. O exame neurológico sempre demonstra espessamento neural difuso, e a baciloscopia é sempre ricamente positiva.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

1 Araújo MG. Hanseníase no Brasil. Rev Soc Bras Med Trop. 2003; 36:373-82.
2 World Health Organization (WHO). Global leprosy situation, 2006. Wkly Epidemiol Rec. 2006;81:309-1
3 Ridley DS, Jopling WH. Classification of leprosy according to immunity: a five-group system. Int J Lepr Other Mycobact Dis. 1966; 34:255-73.
4 Mendonça VA, Costa RD, Melo GEBA, Antunes C M, Teixeira AL. Imunologia da hanseníase. An. Bras. Dermatol. 2008; 83(4): 343-350
5 Oliveira MLW, Penna GO, Talhari S. Role of dermatologists in leprosy elimination and post-elimination era: the Brazilian contribution. Lepr Rev. 2007; 78:17-21.
6 Opromolla DVA. Clínica da hanseníase. Hansenol Int. 2001; 26:1-4.
7 Foss NT: Hanseníase: aspectos clínicos, imunológicos e terapêuticos. An Bras Dermatol.1999;4(2): 113-9.
8 Baptista. La Ginecomastia na Lepra. Rev Brasil Leprol. 1937, 5: 53-66.
9 Maria do Perpétuo Socorro Corrêa Amador.Soroprevalência para hanseníase em áreas endêmicas do estado do Pará [dissertação]. Belém, Universidade Federal do Pará; 2004.
10 Morley Je et al: Hormones changes associated with testicular atrophy and gynaecomastia in patients with leprosy. Clin Endocrinol. 1977, 6: 299-303.
11 Job Ck: Gynecomastia and leprous orchitis. A preliminary study. Int J Lepr. 1961, 29: 423-441.
12 Schettini APM, Eiras JC, Cunha MGS, Tubilla LHM, Sardinha JCG. Hanseníase histoide de localizacao restrita. An. Brás. Dermatol. 2008; 83(5): 470-2
13 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria conjunta n 125, de 26 de março de 2009. Define ações de controle da hanseníase. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 27 de mar. de 2009.
14 P A Opromolla; I Dalben;M Cardim. Análise geoestatística de casos de hanseníase no Estado de São Paulo, 1991-2002. Rev Saúde Pública 2006; 40(5): 907-13.
15 Martin Fir et al. Leprous endocrinopathy. Lancet 1968, 2: 1320-1321.
16 Ree Gh et al. Hormonal changes in human leprosy. Lepr Rev. 1981, 52: 121-126.
17 Arruda M S P; Nogeuira M E S; Vilani F R; Costa H C; Arruda, O S. Avaliaçäo imunológica em pacientes idosos portadores de hanseníase. Salusvita; 7(1): 122-8, 1988.
18 Skacel M, Antunes SL, Rodrigues MM, Nery JA, Valentim VD, Morais RP, Sarno EN. The diagnosis of leprosy among patients with symptoms of peripheral neuropathy without cutaneous lesions: a follow-up study. Arq Neuropsiquiatr. 2000 Sep;58(3B):800-7.
19 Oliveira ML, Mendes CM, Tardin RT, Cunha MD, Arruda A. Social representation of Hansen’s disease thirty years after the term “leprosy” was replaced in Brazil. Hist Cienc Saude Manguinhos. 2003; 10(Suppl 1):41-8.
20 De Rojas V, Hernández O, Gil R. Some factors influencing delay in leprosy diagnosis. Bull Pan Am Health Organ. 1994 Jun; 28(2):156-6.

Downloads

Publicado

30-06-2010

Como Citar

1.
Teixeira LO, Silva CMGCH, Martins ALGP, Barroso LAL, Barreto JA, Soares CT. Hanseníase virchowiana "pruriginosa" em idoso: a importância do exame dermatoneurológico e suspeição diagnóstica. Hansen. Int. [Internet]. 30º de junho de 2010 [citado 28º de março de 2024];35(1):57-62. Disponível em: https://periodicos.saude.sp.gov.br/hansenologia/article/view/35124

Edição

Seção

Seção anátomo-clínica

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)

1 2 3 > >>