A hanseníase como etno-enfermidade: em busca de um novo paradigma de cuidado

Autores

  • Geison Vasconcelos Lira Médico, Mestre em Educação em Saúde, Professor Assistente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.
  • Ana Maria Fontenelle Catrib Pedagoga, Doutora em Educação, Professora Titular do Mestrado em Educação em Saúde da Universidade de Fortaleza.
  • Marilyn K. Nations Antropóloga, PhD em Antropologia Médica, Professora Titular do Mestrado em Educação em Saúde da Universidade de Fortaleza.
  • Roberta Cavalcante Muniz Lira Enfermeira, Mestranda em Educação em Saúde pela Universidade de Fortaleza.

DOI:

https://doi.org/10.47878/hi.2005.v30.36326

Palavras-chave:

hanseníase, antropologia médica, estratégias de cuidado

Resumo

Este artigo tem por objetivo criticar, desde o referencial teóricometodológico da Antropologia Médica, as atuais estratégias de controle da hanseníase como problema de saúde pública. Será descrita a construção sócio-cultural da doença pela humanidade ao longo da história, bem como a forma como ela é problematizada no mundo da vida das pessoas atingidas. Descreveremos as principais categorias culturais pelas quais a doença tem sido vivenciada nas culturas, com ênfase no conflito entre as formas profissionais e leigas de construção da hanseníase como etno-enfermidade. Nesse processo, utilizaremos os conceitos de illness, disease e sickness, da Antropologia Médica Norte-Americana, e o de Modelos Explicativos de Artur Kleinman para garantir a inteligibilidade da hanseníase como fenômeno mórbido essencialmente cultural. Por fim, a partir da análise do conflito entre os Modelos Explicativos Profissional e Leigo de
interpretação e ação na abordagem à hanseníase, proporemos uma nova estratégia de cuidado, centrada no método antropológico, visando apoiar as iniciativas de eliminação, mas suplantando-as no sentido de solucionar os problemas que a enfermidade traz à vida cotidiana das pessoas atingidas, contribuindo para abordar adequadamente o sofrimento social associado ao adoecer de hanseníase.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

1 World Health Organization. The Elimination of Leprosy as a Public Health Problem: Status Report 2001. Geneva: WHO; 2002, 62 p.
2 Ministério da Saúde (BR). Regionalização da assistência à saúde: aprofundando a descentralização com eqüidade no acesso. Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS-SUS 01/01 e Portaria MS/GM nº 95, de 26 de janeiro de 2001 e regulamentação complementar. Brasília: Ministério da Saúde; 2001. 114 p. (Série A.
Normas e Manuais Técnicos n. 116).
3 Yawalkar SJ. Leprosy for Medical Practitioners and Paramedical Workers. 7 ed. Basle, Switzerland: Novartis Foundation for Sustainable Development; 2002. 134 p.
4 Claro LBL. Hanseníase: representações sobre a doença. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1995. 195 p.
5 Report of the International Leprosy Association Technical Forum, Paris, France, 22-28 Februery 2002. International Journal of Leprosy and Other Mycobacterial Diseases 2002; 70 Suplement (1):S1-S60.
6 Kleinman A, Das V, Lock M. Social Suffering. Berkeley: University of California Press; 1997. 404 p.
7 Kleinman A. The Illness Narratives: Suffering, Healing & the Human Condition. New York: Basic Books; 1988. 284 p.
8 Good BJ. Medicine, rationality and experience: an anthropological perspective. Cambridge: Cambridge University Press; 1994. 242 p.
9 Laplantine F. Antropología de la enfermedad: estúdio etnológico de los sistemas de representaciones etiológicas y terapéuticas en la sociedad occidental contemporánea. Buenos Aires: Ediciones del Sol; 1999. 418 p.
10 Eisemberg L. Disease and illness. Culture, Medicine and Psychiatry 1977;1(1):9-23.
11 Fabrega H. The Scope of Ethnomedical Science. Culture, Medicine and Psychiatry 1977; 1(2):201-228.
12 Fabrega H. Ethnomedicine and Medical Science. Medical Anthropology 1978; 2(2):11-24.
13 Kleinman A. Patients and Healers in the Context of Culture: An Exploration of the Borderland between Anthropology, Medicine, and Psychiatry. Berkeley: University of California Press; 1980. 427 p.
14 Almeida Filho N. For a general theory of health: preliminary epistemological and anthropological notes. Cad Saúde Pública 2001;17(4):753-799.
15 Uchôa E. Epidemiologia e antropologia: contribuições para uma abordagem dos aspectos transculturais da depressão. In: Canesqui AM. (Org.). Ciências sociais e saúde. São Paulo: Hucitec; 1997. p. 87-109.
16 Uchôa E, Vidal JM. Antropologia médica: elementos conceituais e metodológicos para uma abordagem da saúde e da doença. Rio de Janeiro, Cad. Saúde Pública 1994;10(4):497-504.
17 Nations MK, Monte CMG. “I’m not dog no!”: Cries of Resistance Against Cholera Control Campaingns. Soc Sci Med 1996;43(6):1007-1024.
18 Foucault M. Arqueologia do saber. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária; 1997. 239 p.
19 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 5 ed. São Paulo: Hucitec; 1998. 269 p.
20 Douglas M. Purity and Danger: An Analysis of Concepts of Pollution and Taboo. London: Routledge; 2002. 193 p.
21 Nations MK, Catrib AMF, Lira GV. Dormant dermis, social death and denial of leprosy diagnosis in Northeast Brazil. Soc Sci Med, submitted, 2004.
22 Rosen G. Uma história da saúde pública. 2 ed. São Paulo: Hucitec; 1994. 400 p.
23 Helman CG. Cultura, saúde e doença. 4 ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2003. 408 p.
24 Bakirtzief Z. Conhecimento científico e controle social: a institucionalização do campo da hanseníase (1897-2000). [Tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2001.
25 Boltanski L. As classes sociais e o corpo. 3 ed. Rio de Janeiro: Graal; 1989, 191 p.
26 Lira GV. Avaliação da ação educativa em saúde na perspectiva compreensiva: o caso da hanseníase. [Dissertação]. Fortaleza (CE): Programa de Pós-Graduação em Educação em Saúde/UNIFOR; 2003. 194 Hansenologia Internationalis
27 Queiroz MS, Puntel MA. A endemia hansênica: uma perspectiva multidisciplinar. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1997. 120 p.
28 Bakirtzief Z. Identificando barreiras para a aderência ao tratamento de hanseníase. Rio de Janeiro, Cad Saúde Pública 1996;12(4):497-505.
29 Deslandes SF. Concepções em pesquisa social: articulações com o campo da avaliação em serviços de saúde. Rio de Janeiro. Cad. Saúde Pública 1997:13(1):103-107.
30 Berger P, Luckmann T. A construção social da realidade. 21 ed. Petrópolis: Vozes; 2002. 247 p. [Original de 1966].
31 Mercado FJ et al. La perspectiva de los sujetos enfermos: reflexiones sobre pasado, presente y futuro de la experiencia del padecimiento crónico. Rio de Janeiro. Cad Saúde Pública 1999;15(1):179-186.
32 Rabelo MCM. A Experiência de Indivíduos Com Problema Mental: Entendendo Projetos E Sua Realização. In: Rabelo MCM, Alves PCB, Souza, IMA. (Org). Experiência de doença e narrativa. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1999. p. 205-228.
33 Heaney CA, Israel BA. Social Networks And Social Support. In: Glanz K, Rimer BK, Lewis FM. (Editors). Health Behavior and Health Education: Theory, Research, and Practice. 3 ed. San Francisco: Jossey-Bass; 2002. 583 p.
34 Santos BS. Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez; 2003. 92 p.

Downloads

Publicado

30-11-2005

Como Citar

1.
Lira GV, Catrib AMF, Nations MK, Lira RCM. A hanseníase como etno-enfermidade: em busca de um novo paradigma de cuidado. Hansen. Int. [Internet]. 30º de novembro de 2005 [citado 18º de abril de 2024];30(2):185-94. Disponível em: https://periodicos.saude.sp.gov.br/hansenologia/article/view/36326

Edição

Seção

Artigos de investigação científica